Bactéria encontrada em cervejaria nos fundos de creche aparece em exames de duas crianças

Exames de duas crianças que apresentaram diarreia apontaram a presença da bactéria Escherichia coli, de acordo com a Secretaria de Saúde de Vila Velha, no Espírito Santo. A mesma bactéria foi encontrada em uma pequena fábrica de cerveja artesanal que fica nos fundos da creche onde as crianças estudavam. Ao todo, 15 pessoas ligadas à creche, sendo 11 alunos e quatro funcionários, apresentaram os sintomas. Um menino de dois anos morreu. A descoberta da bactéria foi divulgada na sexta-feira (29) pela Secretaria Municipal de Saúde, que ainda espera o resultado de outros exames para confirmar se o micro-organismo foi o causador da doença.

“Os exames que o laboratório de saúde pública nos enviou confirmam a mesma bactéria que encontramos lá na creche, mas numa variante muito agressiva, inclusive em uma das crianças que está em estado grave. Então, nós praticamente fechamos o ciclo. Temos a bactéria na creche, temos a bactéria nas crianças adoecidas. Nós sabemos que a transmissão foi pela água. Alguns detalhes ainda faltam para completar essa investigação, mas acho que estamos chegando no final dela”, disse o secretário de Saúde de Vila Velha, Jarbas Ribeiro.

Para o secretário, o andamento das investigações aponta que o chafariz da creche, onde as crianças brincavam e tomavam banho, pode ter sido a fonte do problema.

“No chafariz havia quantidade grande de coliformes totais, que poderia conter também Escherichia coli, mas não foi especificada. Um dos detalhes que estamos avaliando é o projeto hidráulico, para ver a interligação desses vários pontos”, explicou.

A fábrica de cerveja e a creche foram interditadas. Agora, a prefeitura de Vila Velha mandou desmontar a cervejaria, que funcionava sem autorização.

Bactéria encontrada em cervejaria nos fundos de creche aparece em exames de duas crianças

15º caso

A prefeitura também confirmou, nesta manhã (1º) , que mais uma criança, um bebê de sete meses, apresentou os sintomas. Por isso, o número de pessoas atingidas pelo surto de diarreia subiu para 15.

“Ela começou com os sintomas no dia 23, com febre, e no dia 28 apresentou quadro de diarreia. Foi ao Hospital de Vila Velha, foi medicada, liberada. Nós estamos preocupados, porque é uma criança com a imunidade ainda muito comprometida, mas estamos acompanhando”, disse o secretário.

Atualmente, cinco crianças estão internadas em hospitais da Serra, Vila Velha e Vitória, sendo uma em estado grave.

Cervejaria e chafariz

De acordo com o secretário de Saúde de Vila Velha, Jarbas Ribeiro, a cervejaria é separada da creche por um portão. Nas imagens, é possível ver que o local tem pias, geladeiras e outros utensílios usados na preparação da cerveja.

Foram os familiares dos alunos que informaram a prefeitura sobre a presença da pequena fábrica.

“Nós coletamos água da torneira da cervejaria, encaminhamos para o laboratório e hoje (sexta-feira, 29), no início da tarde, recebemos a informação de que no local da cervejaria apareceu uma bactéria chamada Escherichia Coli, que pode realmente causar problemas para as pessoas”, disse.

Os familiares também contaram que as crianças tomavam banho no chafariz da unidade. Segundo o secretário, o sistema não funcionava com água corrente e, no local, foi encontrada uma grande quantidade de coliformes totais.

“Na cisterna do chafariz, encontramos uma quantidade muito grande de coliformes totais, que não indica que haja patogenicidade ainda, mas nos obriga a interdição desse setor. Temos lá uma cisterna, que quando abrimos para olhar, o aspecto da água parada que estava ali era muito ruim”, disse Ribeiro.

O secretário informou, ainda, que a prefeitura vai discutir a renovação do alvará da creche, com base nas informações que estão sendo coletadas.

A creche foi procurada pelo mas as ligações não foram atendidas.

O caso

Crianças de uma mesma creche particular de Vila Velha, com idades entre dois e cinco anos, passaram mal e tiveram diarreia.

Os primeiros sintomas começaram no dia 12 de março e, desde que o caso começou a ser divulgado na imprensa, mais famílias de alunos têm entrado em contato a Vigilância Epidemiológica para passar informações.

Até o momento, sabe-se que 11 crianças apresentaram algum sintoma e também quatro funcionários da creche, sendo dois professores.

A escola está fechada a pedido da prefeitura desde terça-feira (26), para que não ocorram mais contaminações entre os alunos.

Um quiosque também é investigado, pois é o local onde duas crianças – sendo uma delas o menino Theo, que acabou falecendo – comeram batata frita e beberam água de coco antes de começarem a apresentar os sintomas.

Apesar da investigação, o local continua aberto porque, a princípio, a vigilância não encontrou qualquer indício de contaminação e também não houve qualquer outra reclamação.

Quem tiver qualquer informação que possa ajudar no caso, pode entrar em contato com a Vigilância Epidemiológica de Vila Velha: 3388-4185 e 3388-4186.

Morte

Na quarta-feira (27), um menino de dois anos que estava internado na UTI de um hospital particular de Vila Velha morreu.

Theo Cypriano estava em estado gravíssimo, que se iniciou com o quadro de diarreia grave, levando a falência dos rins e morte cerebral.

Segundo uma pessoa da família, a criança já estava internada há nove dias, desde 18 de março. Ele foi enterrado nesta quinta-feira (28), no cemitério Parque da Paz, em Vila Velha.

Investigações

Exames já realizados descartaram algumas hipóteses, como rotavírus e contaminação na água da Cesan.

Até agora, quatro amostras de água foram testadas: três da creche e uma do quiosque que fica na Praia de Itaparica. A água é da Cesan e não apontou nenhuma contaminação.

Outras 10 amostras de água estão sendo analisadas, sendo oito da creche, incluindo água do chafariz e mais duas do quiosque.

Seis amostras de alimentos também estão sendo examinadas: quatro são de alimentos do quiosque que algumas crianças consumiram, que são batata frita congelada, peroá e camarão, e ainda mais duas amostras de comida da creche, que são carne bovina e peito de frango congelado.

As autoridades responsáveis pela investigação acreditam que as crianças foram vítimas de uma gastroenterite, algo comum em crianças, mas que pode evoluir com complicações mais graves e causar a Síndrome Hemolitico Uremica.

Agora a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) também orienta que a creche permaneça fechada até o que o resultado dos exames seja conhecido por completo.

Informações: G1/ES