Porto de São Mateus: estudos federais embasaram o projeto

Bahia tentou levar porto para Ilhéus, mas implicações ambientais foram obstáculo. Ferrovia também foi indicada por estudos de mesorregião dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha

O planejamento da Petrocity de construir um complexo portuário em São Mateus e, ao mesmo tempo, uma ferrovia ligando o porto a Sete Lagoas, na região metropolitana de Belo Horizonte, não está descolado da realidade, garantiu o professor José Fernandes Magnago de Jesus, que participou dos dez anos de estudos do Governo Federal para o desenvolvimento sustentável da mesorregião dos Vales do Mucuri, Jequitinhonha e do rio Cricaré.

Tanto o porto como a nova ferrovia contemplam demandas detectadas ao logo dos estudos realizados para o desenvolvimento de 13 mesorregiões brasileiras eleitas como prioritárias pelo governo federal. A Bahia, com a força política de um governo alinhado com a administração federal, tentou levar o projeto para Ilhéus, mas as implicações ambientais inviabilizaram o projeto no litoral baiano e nasceu a “hipótese São Mateus”.

A logística voltada para o comércio exterior está inserida nos estudos da mesorregião dos Vales do Mucuri, Jequitinhonha e Cricaré

Os levantamentos e o planejamento, iniciados no governo de Fernando Henrique Cardoso, tiveram prosseguimento nos dois governos de Lula, mas foram abandonados pelo governo de Dilma. O embrião, porém, ficou plantado e começou a ganhar forma quando, em 2012, a Petrocity começou a buscar parceiros para a construção do seu complexo portuário e industrial.

O colatinense José Fernandes Magnago de Jesus, 54 anos, preside o instituto mantenedor da Faculdade do Vale do Cricaré, de São Mateus, uma das instituições envolvidas nos estudos empreendidos pelo Governo Federal, com o apoio de 23 ministérios e instituições de fomento, como BNDES e o Banco do Nordeste.

O trabalho desenvolvido na Mesorregião dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha, também envolvendo o Vale do Cricaré, foi premiado internacionalmente na Bélgica. De acordo com José Fernandes, os profissionais e estudantes que foram à Bélgica receber a premiação tiveram a oportunidade de visitar países como França, Alemanha, Espanha e Itália para conhecer arranjos produtivos da economia social nessas regiões.

ABRANGÊNCIA

O estudo da região dos Vales do Mucuri, Jequitinhonha e Cricará, segundo José Fernandes, tornou-se referência mundial e os dados nele contidos fazem parte também do conjunto de estudos da Petrocity para capitanear os projetos de construção do complexo portuário de São Mateus e da nova ferrovia que descerá pelo Noroeste capixaba, cortando os municípios de Barra de São Francisco e Nova Venécia.

José Fernandes participou de dez anos de estudos da mesorregião: premiado em Bruxelas

“A indicação da UTAC (Unidade de Transbordo e Armazenagem de Cargas) de Barra de São Francisco é baseada nos estudos de nossa mesorregião, que abrange 105 municípios, sendo 74 de Minas Gerais, 21 do Sul da Bahia e dez do Espírito Santo. Fizemos um trabalho de dez anos de pesquisas, utilizando dados estatísticos do IBGE e de outras fontes e pesquisas in loco em todos os municípios. Identificamos arranjos produtivos locais e vocações, o que resultou em uma série de projetos de desenvolvimento econômico”, disse José Fernandes.

Ainda segundo José Fernandes, foi a partir dos estudos que se projetou o porto de Ilhéus com uma ferrovia levando ao interior do País para escoar produção, inclusive de grãos da região do Cerrado. Porém, o porto de Ilhéus mostrou-se inviável pelo impacto ambiental que provocaria para alcançar o calado necessário à sua viabilização.

“São Mateus tem vocação portuária histórica. Foi o primeiro porto construído no Espírito Santo, mas era fluvial. Esse porto hoje é apenas uma referência histórica, mas a vocação não mudou e, inviabilizada a ideia de Ilheus, a iniciativa da Petrocity vem atender a essa demanda para mudar a geografia de nossa mesorregião, com impacto direto sobre a vida de mais de 3 milhões de pessoas nesses 105 municípios”, disse José Fernandes.

ÚNICO DA SUDENE

Doutorando em economia social, José Fernandes salienta que o complexo portuário de São Mateus leva grande vantagem competitiva para que seja viabilizado rapidamente: “Será o único porto do Sudeste dentro da área da Sudene, o que o coloca com muitas vantagens competitivas, inclusive para fomentar o crescimento econômico da região Norte do Espírito Santo, Sul da Bahia e Leste de Minas Gerais. Com a ferrovia, vários arranjos produtivos locais se organizarão em torno da logística de escoamento de produção”.

O presidente da Petrocity, José Roberto Barbosa da Silva, anunciou esta semana que o porto de São Mateus já tem todas as licenças federais emitidas e depende tão somente da licença ambiental do Iema para iniciar as obras. No dia 17 de janeiro, a Petrocity está anunciando para Vitória um evento de assinatura de vários contratos com empresas que participarão do projeto. Dentre elas, a Construtora Odebrecht, que ficará com R$ 2,1 bilhões para a parte principal da obra.

Enivaldo dos Anjos: apoio político para o projeto do porto em São Mateus e nova ferrovia para Minas

A partir da posse do novo governo do Espírito Santo, o deputado estadual Enivaldo dos Anjos (PSD), que representa a região Noroeste na Assembleia Legislativa, colocou-se à disposição para dar apoio político ao projeto, atuando junto aos órgãos estaduais para agilizar o processo de licenciamento ambiental. Ele teve de José Roberto a garantia de que, se a licença sair ainda no primeiro semestre de 2019, o porto entre em operação no início de 2021.

Durante a fase de construção, as obras vão gerar 2.500 empregos diretos e pelo menos 6 mil empregos indiretos. Na operação, serão 2.000 empregos mais especializados, com expectativa de instalação de várias indústrias nas proximidades do Porto. Na região Noroeste, empresários se mobilizam para participar do projeto da ferrovia.

“Temos hoje uma dificuldade de ampliar a produção de granito por desafios de logística. Nós, da Toledo, temos interesse também em exportar nosso minério de Guanhães, em Minas Gerais”, disse Maurício Toledo, um dos maiores produtores de rochas ornamentais do Noroeste capixaba.

(Série de reportagens produzida pelo jornalista José Caldas da Costa sobre os impactos do porto da Petrocity e da nova ferrovia EFMES sobre a economia do Norte e Noroeste do ES)