O protagonismo político de um prefeito

Gustavo assina a posse ao lado do prefeito Enivaldo: hoje os dois nem se falam

Como deputado, Enivaldo dos Anjos, prefeito de Barra de São Francisco, sempre teve atuação enérgica. Como prefeito, tem dois focos preferenciais para sua Barra de São Francisco, desde que assumiu em 1º de janeiro de 2022: cuidar das pessoas, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade social, e encaminhar o futuro, como fez há mais de 30 anos, quando chefiou o Executivo pela primeira vez e estruturou o município para a sua era industrial.

No primeiro pilar, uma preocupação: que nenhuma pessoa passe fome. Para isso, planta e distribui comida. Um hortão produz alimentos que abastecem creches e comunidades periféricas, além do restaurante popular que fornece 800 refeições diárias – e agora está plantando outro, de onde vai tirar alimentos para distribuir sopão para a população, garantindo também o jantar.

No segundo pilar, depois que viu o setor industrial de rochas ornamentais se desenvolver, quer abrir as portas para o mundo e empenha-se para fazer de Barra de São Francisco “o maior hub logístico do Brasil” confluindo os projetos de duas ferrovias, em direção ao centro do País e ao litoral, visando à importação e exportação, além de lutar pela duplicação da BR 381, que atravessa o município, entre o litoral e o Vale do Aço mineiro.

Na sombra de seu chapéu, Enivaldo colocou uma eficiente equipe de colaboradores, a maior parte formada de mulheres e jovens. Poucos de seus secretários alcançaram meio século de vida. Dentre eles, o próprio vice-prefeito Gustavo Lacerda, a quem entregou o comando das ações de enfrentamento à pandemia de Covid, que, em dado momento, foi arrasadora no município.

Gustavo, porém, elevado ao panteão de quase um executivo da administração na área da Saúde, cuja pasta comandava, é relativamente jovem e ambicioso e trilhou um caminho diferente de outro jovem que Enivaldo havia alavancado a carreira política: o professor Alencar Marim, eleito prefeito em 2016 com o apoio do veterano político, mas que, ao saber das pretensões de Enivaldo de concorrer em 2020, anunciou que não seria ingrato e não o enfrentaria.

Assim, insuflado por opositores de Enivaldo – hoje eles são cada vez mais raros, mas existem -, foi picado pela mosca azul e queimou a largada. No meio da crise da Covid, saiu articulando uma pré-campanha a deputado, sem combinar com quem o alavancou à condição de destaque. Resultado: foi tirado da Secretaria de Saúde “por estar usando a estrutura pública para promoção pessoal” e relegado à condição de simples vice pronto a substituir o prefeito em seus impedimentos, como prevê a Lei Orgânica Municipal.

Em ano eleitoral, com uma janela partidária que mais parece uma “gaiola das loucas” (no sentido figurado), Gustavo está em campo em busca de apoios para sua candidatura a deputado estadual. Enivaldo, por sua parte, há algum tempo já disse que vai apoiar o nome do sobrinho Mazinho dos Anjos, filho de Edmar Euzébio dos Anjos, o mais novo dos filhos de Astroja e dona Samina. Mazinho viveu em Barra de São Francisco até os três anos de idade.

Hoje, Gustavo e Enivaldo nem se falam mais, porque o prefeito considera que a atitude de Gustavo, antecipando a “campanha informal” sem falar nada com o grupo, não tem outro nome a não ser traição. “Não consultou ninguém e não tem a menor chance de ter apoio do grupo, nem em Barra de São Francisco e nem em municípios vizinhos”, teria dito Enivaldo numa conversa em circuito restrito.

Em Barra de São Francisco, além de Mazinho dos Anjos e o próprio Gustavo, fala-se que o ex-deputado e ex-prefeito Luciano Pereira, agora sem qualquer chance de ter o carisma do pai ao seu lado, pois Edinho morreu em meados do ano passado, após longa luta contra o câncer, está se articulando para disputar uma vaga na Assembleia. E tem ainda o vereador Teco Ferreira, que deixou o PSD e foi para o PSB ser candidato a deputado estadual em dobradinha com Paulo Foleto para federal.

Quem conhece o prefeito de Barra de São Francisco sabe que ele é fiel a princípios. No campo político eleitoral, por exemplo, respeita mais um adversário do que um ex-companheiro desleal, com quem costuma ter mão pesada: não apoia e atrapalha, se tiver jeito.

Como é reconhecido como o maior líder político da região Noroeste, com livre e forte trânsito no Palácio Anchieta, Enivaldo não vai deixar nada baixo nessa eleição. E vai querer reciprocidade de líderes de municípios vizinhos aos quais sempre apoiou, até mesmo para chegarem aonde chegaram. As eleições de 2022 prometem, também nas proporcionais na região Noroeste. (Do Editor)