Menina atingida por concreto no ES em 2019 ainda luta contra sequelas do acidente

Anna Luíza ficou internada por cerca de um mês após ser atingida por concreto em Guarapari

Um ano e sete meses se passaram desde que a vida da pequena Anna Luíza mudou radicalmente após ela, ainda com dois anos de idade, ser atingida na cabeça por um pedaço de concreto que se soltou de uma varanda em Guarapari, no Espírito Santo.

Apesar de não ter perdido a alegria, a menina luta para contornar as sequelas do acidente, que ainda persistem. As brincadeiras de criança agora dividem espaço com uma rotina de sessões de fisioterapia e consultas médicas.

O acidente ocorreu em outubro de 2019, quando a família de Anna Luiza, que é de Pirapora, em Minas Gerais, trouxe a menina para conhecer o mar em Guarapari.

Eles faziam um passeio à noite na Praia do Morro quando o pedaço de concreto se desprendeu da varanda e atingiu Anna Luíza, que estava no colo do pai. O impacto provocou um afundamento de crânio.

A menina passou por uma cirurgia e teve alta do hospital quase um mês depois. Mas, ainda assim, os danos persistem. Ana Luíza agora tem quatro anos.

Anna Luiza faz sessões de fisioterapia

“Ela não mexe a mão esquerda, o lado facial dela, se não for espontâneo, não mexe. Por exemplo, se você pedir para ela sorrir, ela não sorri. A mão não fecha, não abre, não segura. Ela não abraça, a mão fica dura e ela anda de forma rotatória. O cérebro dela ainda é aberto”, contou a mãe, Sheila Portela.

A avó Geni Rodrigues, que também acompanha Anna Luíza de perto, observa como o trauma afetou o desenvolvimento da criança.

“Quando houve o acidente, ela já sabia contar até 10, contar em inglês, ela sabia as cores. Depois do acidente, ela perdeu essas coisas da escola que ela tinha aprendido”, explicou.

Tratamento e altos custos

O atual tratamento de Anna Luíza envolve vários profissionais e gera um custo que a família mal tem condições de bancar. Somente com a fisioterapia, o custo mensal chega a ser de R$ 3 mil. Além disso, ainda existem outras despesas, como a natação e o acompanhamento com um um neurologista.

Por isso, os familiares se esforçam, organizando vaquinhas e até almoços solidários. Geni, por exemplo, fez uma feijoada com a ajuda de doações para arrecadar recursos. Já Sheila fez uma rifa para pagar dívidas.

“Eu esqueci de mim, esqueci de cabelo, de unha. Sou muito vaidosa, mas tive que esquecer que eu existia para ela poder viver”, conta Sheila.

A família cobra para que os responsáveis pelo prédio do qual o concreto se desprendeu arquem com os custos do tratamento de Anna Luíza.

De acordo com o advogado da família, Flávio Porto da Silva, o condomínio pagou a hospedagem de familiares ao longo do mês em que Anna Luiza precisou ficar internada no Espírito Santo.

Por alguns meses seguintes, após a menina voltar para Minas Gerais, os responsáveis pelo prédio enviaram uma quantia mensal, que já não é mais paga. Silva ressaltou que mesmo quando era pago, o valor era insuficiente.

O advogado defende ainda que houve uma série de erros no caso, desde o inquérito policial. Segundo ele, além de o condomínio não ter sido responsabilizado criminalmente como deveria, o caso foi tratado como lesão corporal leve.

“Desde o inquérito até o momento de hoje houve algumas falhas. Não foi juntado no inquérito policial o prontuário médico da Anna Luíza, de modo que não se pode aferir a gravidade da situação, que é uma lesão corporal grave, tanto na parte do inquérito policial, quanto no Ministério Público e depois quando foi aceita a denúncia e virou um processo na Vara Criminal de Guarapari”, disse Flávio.

Após o acidente, o prédio passou por uma reforma e hoje está com proteções.

A Polícia Civil informou que a perícia e a inspeção do Corpo de Bombeiros não constataram negligência do condomínio ou do proprietário.

A conclusão foi a presença de um desgaste que estava escondido na estrutura. O Ministério Público explicou que, como não houve a intenção do crime, a pena máxima não passa de dois anos. O órgão informou ainda que, nesse caso, mesmo tendo ocorrido uma lesão grave, não há previsão legal para o agravamento da pena.

Informações: G1