Covid fulminante mata secretária da Câmara de Vereadores e abala cidade do ES

Vista de Alegre: cidade enfrenta o maior pico de Covid desde o início da pandemia

Apenas quatro dias depois de ser internada no hospital de Guaçuí, referência para o tratamento de Covid na região do Caparaó, a servidora e secretária da Câmara de Alegre, Rita de Cássia de Oliveira, 56 anos, morreu na quinta-feira (22) e causou comoção na cidade. O presidente da Câmara, vereador Carlos Renato Viana (PR), decretou luto oficial de três dias e suspendeu a sessão da próxima segunda-feira.

O sepultamento de Rita de Cássia, apesar das restrições, ocorreu nesta sexta-feira (23) com um cortejo formado por centenas de veículos. “Ela era uma pessoa mais do que querida, mas muito importante para a cidade. Nesses 20 anos em que ela trabalhou na Câmara, construiu uma reputação de competência que não dá para imaginar o Legislativo sem ela”, disse o servidor Fabiano da Silva Pinheiro, 43 anos, desde os 19 servindo na Câmara.

Mais do que a história profissional ao lado de Rita, Fabiano disse ter construído uma relação quase parental. “A gente trabalhava junto, cooperava, sonhava, eu perdi uma irmã”, disse Fabiano, ele também em quarentena por conta da Covid, que tem certeza ter contraído de Rita. “A gente ficava muito junto”, disse ele.
Para além da proximidade profissional, até no momento mais dramático de Rita o seu colega Fabiano estava presente. Na quarta-feira da semana passada, a servidora chegou para trabalhar e pediu a Fabiano que chamasse o farmacêutico do estabelecimento próximo à Câmara para aferir sua pressão.

“Quando o rapaz estava aferindo a pressão, a Rita desmaiou. Colocamos ela em cima de uma poltrona e começamos a reanimá-la. O diretor deu a sugestão de leva-la ao pronto socorro e eu disse que tínhamos que perguntar se ela queria ir porque a Rita morria de medo de pegar Covid. Quando ela começou a voltar, perguntamos e ela disse que não queria ir ao pronto socorro, mas para casa”, disse Fabiano.

VIA CRUCIS

Na quinta-feira, Rita começou a ter diarreia e outros sintomas relacionados à Covid, mas não procurou socorro, segundo Fabiano. No sábado, ela desmaiou de novo e foi levada ao médico, que mandou fazer o teste. “No domingo de manhã, ela postou que tinha dado positivo e eu comentei: então, estou positivo também, porque estou sentindo as mesmas coisas”, disse Fabiano.

No domingo à tarde, o quadro da servidora piorou e no início da noite ela foi levada para o hospital de Guaçui, a 23km de Alegre. Os primeiros testes já indicaram 50% do pulmão comprometido. Começou uma corrida contra o tempo. Na segunda-feira, ela já entrou na UTI e foi entubada, para só piorar até morrer quatro dias depois.

“Ela morreu do que tinha medo. Parecia prever isso. Há 30 dias, pediu que, se ela pegasse Covid e morresse, que cuidássemos de sua única filha, Luíza, de 21 anos, que estuda Fisioterapia. Ela era separada desde que Luíza era pequena e Rita era mãe e pai da filha. O curso era ela quem pagava”, contou Fabiano, cujas duas filhas, de 10 e 8 anos, também foram positivadas para Covid. “Minha mulher só não pegou porque já tinha tomado as duas doses da vacina porque trabalha na farmácia básica do município”, observou.
Centenas de pessoas lamentaram nas redes sociais sociais a morte de Rita de Cássia de Oliveira. Uma delas a professora Dinorah Rubim, do campus do Ifes do município.

“Trabalhei 12 anos com ela na Câmara, depois passei no concurso e fui trabalhar no Ifes. Mas nunca nos afastamos. Estou completamente arrasada”, disse Dinorah.

Nas redes sociais, a professora postou: “Hoje eu só choro. Foram vários anos trabalhando e convivendo diariamente. Amigas da Câmara Municipal e amigas da vida. Erramos juntas, acertamos mais, aprendemos muito e rimos demais. Um pessoa inteligente, profissional irreparável, competente, amiga fiel. Nunca imaginaria despedir-me tão cedo de você, e perdê-la para essa doença tão cruel (Covid). Foi tão rápido! Tão… Tão… Tá doendo demais! Ainda não consigo acreditar”.

Com população de pouco mais de 30 mil habitantes, Alegre é polo universitário na região Sul do Estado. De acordo com o painel Covid da Secretaria de Estado da Saúde, a cidade tem 1.747 casos confirmados de Covid, com 43 óbitos e letalidade de 2,5%.
O que vem assustando a população, porém, não são os números absolutos da doença, mas o fato de que de janeiro até abril houve um aumento de quase 70% nos casos. O município tem, atualmente, 290 casos ativos de Covid e o número de mortes aumentou 50% nos últimos 14 dias. A média móvel de casos confirmados é de 9,93 casos nesta sexta-feira. A maior média móvel registrada desde o início da pandemia foi no dia 20 de janeiro deste ano, quando a cidade teve um pico de 11,07 casos.

O primeiro pico de mortes na cidade foi em julho de 2020 com sete óbitos, mas abril já superou e está com 10 mortes em Alegre por Covid. Nos últimos 14 dias, houve um aumento de quase 15% nos casos positivos. No mapa de risco divulgado nesta sexta pelo governador Casagrande, Alegre é uma das 50 cidades do Estado com risco alto de contágio, a exemplo de toda a região do Caparaó, exceto Divino de São Lourenço e Dores do Rio Preto, que estão em risco moderado.