Cidade do ES contraria recomendação da Anvisa e encomenda remédio sem eficácia contra covid-19

Mesmo depois de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ter declarado que não há tratamento precoce contra a Covid-19 e diversos estudos mostrarem que não existe medicamento para prevenir a doença, o município de Jaguaré, no Norte do Espírito Santo, renovou o estoque de cloroquina pra tratar pacientes com o novo coronavírus.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também não indica o uso do remédio em pacientes com a doença porque não há demonstração de benefícios para os casos.

De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Jaguaré foi o único município do estado a solicitar o medicamento neste ano. O pedido foi de 50 comprimidos.

No ano passado, 36 dos 78 municípios do Espírito Santo pediram o remédio à secretaria de Saúde. Juntos, os municípios receberam com um total de 94.710 comprimidos do medicamento.

De acordo com a prefeitura, o município leva em consideração as decisões do Centro de Operações de Emergência (COE), que é formado por profissionais da área da saúde e membros da sociedade civil, no combate ao coronavírus.

A Prefeitura de Jaguaré explicou que, em julho de 2020, foram solicitados 300 comprimidos de cloroquina. Foram entregues 290 comprimidos à população até dezembro e 10 comprimidos ficaram em estoque.

Em janeiro deste ano, o pedido de uma nova remessa do medicamento foi levado ao COE, e o Centro de Operações solicitou mais 50 comprimidos para a prefeitura. Segundo a administração municipal, o remédio ainda não foi entregue.

Medicamento não tem eficácia comprovada

Em julho do ano passado, o Ministério da Saúde afirmou ao Supremo Tribunal Federal que o protocolo sobre o uso desse medicamento contra o novo coronavírus, publicado no fim de maio de 2020, não obriga médicos e pacientes a adotarem o tratamento.

No mesmo mês, dois estudos publicados pela revista científica Nature apontaram que esses medicamentos não são úteis no tratamento da Covid-19.

Em novembro, um estudo brasileiro envolvendo mais de 10 mil pessoas revela que o fato de utilizar a cloroquina por muito tempo não diminui a probabilidade de contrair, nem previne as formas graves da infecção pelo coronavírus.

As discordâncias sobre o uso do medicamento tiraram dois ministros da saúde do cargo. O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta perdeu o posto após discordar do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) sobre o uso de cloroquina no tratamento da Covid-19.

Nelson Teich, que assumiu logo após Mandetta e deixou o cargo em menos de um mês, declarou em entrevista à GloboNews, que sua saída ocorreu por causa de um “desalinhamento” com o presidente e que a indicação para o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina em pacientes leves de Covid-19 pesou em sua decisão.

Informações: G1