“Ahá, uhu!!! A terceira ponte é nossa…” e a Rodovia do Sol também

Manifestantes quebrando as cabines do pedágio nas manifestações de 2013: dez anos depois, o pedágio acaba

Nos últimos meses, desde que o Governo anunciou que não renovaria a concessão da Terceira Ponte e da Rodovia do Sol com o consórcio Rodosol , os serviços pioraram muito para os usuários. Especialmente, depois que foi inaugurada a terceira faixa e a ciclovia da vida, com recursos estaduais, a sensação de quem usa a Ponte Darcy Castello de Mendonça é de que a concessionária passou a atuar em “operação tartaruga”.

Passaram a ocorrer longas filas de veículos nos horários de maior movimento, e até em outros, porque na praça de pedágio havia lentidão, parecendo proposital, para que inúmeros funcionários oferecessem o serviço de TAG, que permite a passagem pela via expressa. E, pelo  jeito, muitos foram vendidos. A pergunta agora é: para que servirão, agora, os TAGs, se o usuário não costumar viajar pela BR 101, também sob concessão?

Acabou o pedágio no sistema composto por Terceira Ponte e Rodovia do Sol, anunciou o governador Renato Casagrande. O contrato com a Rodosol acaba dia 22 e, a partir daí, “a terceira ponte é nossa”. E a Rodovia do Sol também.

Em 1998, foi realizada licitação para escolher a concessionária do Sistema Rodovia do Sol, que consagrou a Servix Engenharia S.A, do grupo Banco Rural, como vencedora. Já em 25 de agosto de 1999, a Servix dividiu a execução integral das obras da concessão do Sistema Rodovia do Sol com as empresas Tervap Pitanga Mineração e Pavimentação Ltda., A. Madeira Indústria e Comércio Ltda., e Engenharia e Construtora Araribóia Ltda., todas integrantes do chamado Consórcio Local, por meio da constituição do Consórcio Executor Rodovia do Sol.

Em 2013, manifestações populares levaram à suspensão da cobrança do pedágio, restabelecido posteriormente por decisão da Justiça. Em dado momento, a Rodosol apresentou uma narrativa que todo mundo engoliu: estabeleceu pedágio somente no sentido Vila Velha-Vitória com o argumento de que seria para evitar os longos congestionamentos do lado de Vitória.

Os congestionamentos continuaram a acontecer na capital, simplesmente porque o fluxo de acesso à ponte é feito por oito faixas de diferentes vias, enquanto na ponte isso entrava num gargalo de apenas duas faixas. Por seu lado, entretanto, a concessionária reduziu pela metade seu custo operacional na praça de pedágio e a sociedade capixaba engoliu. Como? É só fazer conta: com o pedágio em um só sentido, as cabines de cobrança reduziram-se em 50%. Menos gente trabalhando, menos custos.

As únicas melhorias feitas na ponte durante toda a concessão foram com recursos públicos

O governo investiu R$ 180 milhões para construir a ciclovia da vida e a terceira faixa, exclusiva para ônibus, caminhões, motos, táxis e veículos de emergência. A capacidade de tráfego aumentou em 40% na ponte, o fluxo melhorou, mas ainda há ajustes para fazer nos acessos por Vitória e Vila Velha. A rigor, essa foi a única obra significativa na ponte ao longo de 34 anos de concessão – e foi feita com o dinheiro público.

A população capixaba sempre desconfiou que “essa ponte já foi paga há muito tempo”. Afinal, o pedágio foi instituído para custear os 5% finais da obra executados no governo de Max Mauro (1987-90), pela Construtora ORL. Foi a empresa quem explorou o pedágio de 1989 até 1998, quando foi feita a licitação. A ponte abriu  em agosto de 1989 operando com 12 mil carros por dia. Três anos depois, já estava em 15 mil. Atualmente, são 60 mil veículos/dia.

A Terceira Ponte impulsionou, especialmente, o crescimento de Vila Velha, que experimentou um boom imobiliário. E viabilizou empreendimentos que estavam perdidos, como Interlagos. A cidade dobrou sua população nessas últimas três décadas, de cerca de 260 mil para mais de 530 mil habitantes.

Agora, ao fim da concessão e, ao mesmo tempo em que o governo acaba com o pedágio, a batalha vai para a Justiça. A Rodosol diz que o Governo deve-lhe R$ 350 milhões. Mas o Estado diz que quem deve é a Rodosol. Aguardem cenas dos próximos capítulos. (Da Redação)