Consultor aponta desafios para regiões de novos porto e ferrovia no Estado

O anúncio da construção de um porto de grande porte em São Mateus e de uma nova ferrovia, ligando o terminal à cidade de Sete Lagoas (MG), criando um novo corredor logístico com impacto, sobretudo, no sul da região da Sudene, vai estabelecer uma nova era de prosperidade para o Noroeste do Espírito Santo, “destacadamente, aquelas regiões que vão receber investimentos diretos e indiretos”.

Esta é a avaliação do historiador, professor universitário e consultor em marketing político Darlan Campos, analisando as repercussões desses dois projetos para além do aspecto econômico. Darlan é figura conhecida no meio midiático capixaba por sua participação em debates e programas que analisam questões políticas e eleitorais e de desenvolvimento no Estado.

Se trarão prosperidade, os dois projetos trazem junto também grandes desafios para os gestores municipais e estaduais, a começar pela carência de mão de obra qualificada. “O outro desafio é a carência dos próprios municípios de desenvolverem planejamento estratégico de médio prazo, pois os impactos econômicos e sociais na região vão exigir uma interlocução profunda do poder público em todo o processo que vai levar à construção, principalmente, da ferrovia”, disse Darlan.

Darlan Campos analisa os desafios das região impactada pela construção da nova ferrovia

NOVA MATRIZ SOCIAL

De acordo com a avaliação do consultor, essa articulação será fundamental, em primeiro lugar, para aproveitar os aspectos econômicos, com as novas oportunidades de negócio e de um novo arranjo econômico para a região, “uma tremenda oportunidade com impacto direto nas atividades econômicas já existentes e o surgimento de novas”.

Mas haverá outros desafios para o poder público se preparar visando a essa nova era de prosperidade: “É o desafio de lidar com nova matriz social que se estabelece a partir de um investimento tão alto. Isso traz impactos econômicos, mas também gera custo social. É preciso preparar-se para esse impacto e é fundamental planejamento que dê conta dessa realidade nova”.

Diante disso, então, o que fazer? A resposta de Darlan Campos está na ponta da língua: “Cabe agora aos gestores municipais, por intermédio de sua equipe técnica ou com auxílio do Governo do Estado, ou mesmo com parceria público-privada, estabelecer conexões com o setor privado, que já se disponibilizou a fazer esses investimentos, mesmo diante de uma grande recessão nacional que estamos vivendo e que parece estar chegando ao final”.

De toda forma, o anúncio dos empreendimentos, de acordo com Darlan, dá um novo alento para o futuro do Noroeste “o aproveitamento de toda a potencialidade que tem esse projeto movido pela iniciativa privada vai depender de como os gestores vão se comportar”.

Daí advém outro desafio: “É a qualificação de seu quadro de secretariado, principalmente no campo econômico, para lidar com os desafios e contribuir com as parcerias público-privadas para que os frutos advindos desse forte investimento na região possam chegar ao cidadão de bem”.

QUALIDADE POLÍTICA

Quanto ao eleitor, o cientista Darlan Campos aconselha que se mobilize mais e passe a cobrar tanto do poder público quanto das empresas às empresa investidoras que esses processos gerem o mínimo impacto social e ambiental possível.

“É um potencial interessante para novos negócios, com mais gente circulando, mais investimentos, mais dinheiro na economia e um grande potencial para os arranjos econômicos locais já estabelecidos”, reafirma.

Mas não apenas de impacto econômico, social e ambiental viverá a nova era do Norte e Noroeste do Espírito Santo, além do Sul da Bahia, Leste de Minas e vale do Jequitinhonha. Haverá ainda o impacto político. Momentos como este são uma oportunidade interessante de capitalização política para  os gestores com mandato, segundo Darlan.

“Caso o impacto seja tão positivo, como podemos prever, é possível que isso reverbere para as eleições de 2020, mas com certeza vai influenciar muito na eleição de 2024 nos municípios. Isso tende a gerar uma disputa mais profunda e acirrada nesses municípios  onde vai haver esses investimentos. Quem está com mandato e quem está buscando uma vantagem competitiva dentro desse cenário, os dois lados vão se digladiar e é importante que o eleitor fique atento às suas escolhas para não perder, quem sabe, a grande chance da história regional”, conclui.

O EMPREENDIMENTO

Ferrovia projetada com recursos privados abrirá nova era de prosperidade no Norte e Noroeste

O empreendimento que promete essa mudança radical no perfil sócio-econômico do Norte e Noroeste do Estado será feito, inteiramente, com capital privado. Em São Mateus, na região de Urussuquara, estão adiantadas as articulações para construção do complexo portuário da Petrocity, para criar um novo canal de comércio internacional para o Espírito Santo e o Brasil.

Serão gerados 2.500 empregos diretos na fase de construção e 2.000 empregos na operação, segundo o presidente da Petrocity, José Roberto Barbosa da Silva, 56 anos, ampla experiência em gestão pública e privada.

Paralelo ao projeto do porto, está sendo concebido o projeto de uma nova ferrovia, a Estrada de Ferro Minas-Espírito Santo, com 560km ligando Sete Lagoas, na região metropolitana de Belo Horizonte, ao novo porto de São Mateus.

O traçado dessa ferrovia segue pela região Noroeste do Estado, cortando ainda os municípios de Nova Venécia e Barra de São Francisco, onde haverá uma Unidade de Transbordo e Armazenamento de Cargas (UTAC). Outras unidades serão sediadas em cidades minerias: Governador Valadares, Santa Maria de Itabira, no Terminal de Cargas do Aeroporto de Confins e em Sete Lagoas, final da linha.

(Série de reportagens diárias produzidas pelo jornalista José Caldas da Costa)