Pó preto: Arcelor vai cumprir prazo, Vale atrasa obras e põe a culpa na pandemia

Romildo Fracalossi, diretor ambiental da Vale, em reunião na Assembleia Legislativa

A Vale do Rio Doce somente concluirá, de acordo com nova promessa, em 2024 os 20% de obras que ainda faltam no Termo de Compromisso Ambiental (TCA) assinado com o Ministério Público Estadual. Esse anúncio foi feito pelo gerente de Meio-Ambiente da empresa, Romildo Fracalossi, ao participar de reunião da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa. E culpou a pandemia de Covid pelo atraso.

Outra empresa poluidora e que também assinou o TCA, a ArcelorMittal Tubarão, garante que seu cronograma não sofrerá atrasos. Na última terça-feira (28), o Ministério da Saúde anunciou que o Brasil bateu a marca de 700 mil mortos pela covid-19, três anos após o primeiro óbito, em 12 de março de 2020.

A Vale do Rio Doce assinou o TCA assinado pela Vale em 2018, com prazo de cumprimento até dezembro de 2023. Mas a pandemia do coronavírus provocou atrasos, segundo a corporção.

A reunião, na tarde desta quarta-feira (29), contou ainda com a presença de representantes de outra mineradora, a ArcelorMittal Tubarão, do Instituto Estadual do Meio Ambiente e  Recursos Hídricos (Iema), Ministério Público e da ONG Juntos SOS ES Ambiental, além de deputados do colegiado, do vereador André Moreira e de outras autoridades.

REAÇÃO

O presidente da Comissão de Meio Ambiente, Fabrício Gandini, lamentou o anúncio de atraso das obras por parte da Vale, mas garantiu que o colegiado continuará com o seu papel de fiscalização, para garantir a melhoria na qualidade do ar da Grande Vitória.

“Vou continuar cobrando. Acompanharei os números em relação à poeira sedimentada e outras fontes de poluentes no ar, para que tenhamos uma solução para esse problema que mexe com a vida dos capixabas. Até o fim do ano, vamos aprovar a primeira lei da qualidade do ar no Espírito Santo. Obrigado a todos que, junto comigo, perseguem essa meta. Só assim vamos dar mais qualidade de vida para os nossos filhos e netos”, declarou.

Ao narrar o andamento das obras de contenção da poluição, com investimentos que superam R$ 2,2 bilhões, Fracalossi admitiu que pelo menos 20% das obras terão de ser concluídas somente no ano que vem, fora do prazo estipulado no TCA.

“A covid afetou o desenvolvimento de projetos, a engenharia. Tivemos de adotar as medidas de isolamento e distanciamento social, o que impactou no ritmo das obras. Tivemos 1.800 empregados trabalhando em 2019. E, cerca de 1.600, em 2020 e 2021. Por isso, nós pedimos este prazo porque houve um impacto. Muitos dos nossos engenheiros que tinham idade acima de 60 anos não puderam fazer o trabalho por causa das recomendações de isolamento e distanciamento social do Ministério de Saúde. Mas não houve paralisação das obras”, garantiu Fracalossi.

O gerente da Vale declarou, contudo, que grande parte das obras de contenção das emissões, que estão previstas no TCA (espécie de retratação por parte das empresas), será concluída este ano. “Pequenas obras serão finalizadas em 2024. Elas não impactam nos resultados que nós almejamos alcançar. Nossa expectativa é de que consigamos implantar as principais obras até o prazo previsto para 2023 e atingir os objetivos que a gente se propôs”, analisou.

Ao ser questionado sobre o que ficará para o ano que vem, Fracalossi detalhou algumas ações. “Ficarão para 2024 cerca de 20% da cobertura dos transportadores, 20% do enclausuramento das casas de transferências e a conclusão da cobertura do virador de vagões. Essas obras serão finalizadas em 2024. Mas a grande parte será finalizada em 2023. O que estamos fazendo com o TCA é melhorar as nossas emissões, nas nossas operações. O que vamos concluir em 2023 vai atingir os objetivos que é reduzir em 93% nossas emissões”, garantiu.

Conforme o representante da mineradora, foram investidos cerca de R$ 2,2 bilhões em ações como instalação de telas de proteção (wind fences) para não expandir o pó preto; confinamento sob tetos e paredes do material em industrialização e transportados; pavimentação apropriada e limpeza do piso do parque industrial; construção de galpões, dentre outras medidas.

Fracalossi informou que a empresa tem ferramenta de gestão e controle ambiental avalizada pelo Iema, que mede os resultados, e que no final de 2022 chegou a reduzir para 40 quilos por hora (83%) as emissões difusas. Até o final de 2024, deve cair para 21 quilos por hora, o que corresponde aos 93% previstos.

ARCELOR

Indagado sobre a possibilidade de atraso na conclusão das obras do TCA, o gerente de Comunicação e Relações Institucionais da ArcelorMittal, Bernardo Enne, descartou a possibilidade.

“Atualmente, nós estamos trabalhando para entregar todas as metas ainda em 2023. Para isso, temos uma comissão que verifica e faz o acompanhamento. Nossa meta é fazer todas as entregas”, garantiu.

A coordenadora do programa Evoluir da ArcelorMittal, Gabriela Escobar Ludolf, informou que a empresa já investiu R$ 1,9 bilhão em ações ambientais. São 446 planos de ações para atender as 131 metas do TCA 36/2018, com 55% concluídos (60 metas cumpridas).

Gabriela afirmou que o programa ambiental da ArcelorMittal está entre os maiores do mundo. São 100 equipamentos de controle atmosférico em operação, com 18 quilômetros de tubulação e mais de mil pontos de captação de poluentes, além de três wind fences concluídos. (Da redação com assessoria parlamentar)