Um exército de pessoas “invisíveis”, empurrando carrinhos, toma conta das ruas da Grande Vitória

Sem nome, sem identidade e sem renda, uma verdadeira massa de pessoas sujas, vestidas com trapos e famintas tomou conta das ruas da Grande Vitória empurrando seus carrinhos abarrotados de materiais recicláveis.

São homens, mulheres e crianças que utilizam carrinhos de supermercados, de bebê e de rolimã improvisados como meio de transporte para garrafas plásticas, latinhas, papelão, alumínio, cobre e o que mais couber.

O objetivo é um só: percorrer o máximo possível de ruas e avenidas revirando o lixo dos mais abastados para garantir o mínimo de material reciclável que será vendido, trazendo a esperança de uma refeição diária. Talvez a única.

A Dona Dora é uma dessas pessoas. Ela mora no morro dos Alagoanos, em Vitória, e, mesmo catando material do lixo para sobreviver, se orgulha de ter uma casa e um teto sobre a cabeça para abriga-la.

“Consigo ganhar R$ 18, R$ 20 todos os dias catando e vendendo material que cato nas ruas e também ganho das pessoas. Estou lutando para receber minha aposentadoria, mas o governo não quer dar. Prometeram para o ano que vem. Tenho uma casinha humilde, mas manter as despesas está muito difícil”, revela.

Com lágrimas que escorrem pela face e se misturam com a poeira, com a lama e com a tristeza de quem, aos 60 anos, deveria estar aproveitando o restante de vida que lhe cabe, Dona Dora segue seu caminho, empurrando o carrinho com algumas roupas, escoltada por cinco cachorros.
Iguais à ela, flagrei dezenas de pessoas pelas ruas da Grande Vitória. Um deles, que se identificou apenas como

Igor, parece ter problemas psicológicos. A fala confusa e desordenada, dá o tom de quem não sabe para onde ir, mas sabe que precisa chegar.

“Não tenho casa não. Cato aqui na rua e vendo. Mas é pouco. Queria uma casa, comida na mesa. Mas não dá. Ninguém ajuda”, lamenta.

Outro catador que empurra seu carrinho de bebê nas proximidades do Sambão do Povo, em Vitória, é Claudemir. Idoso, cansado e sem perspectiva, ele desabafa. “Morrer não é uma ideia ruim agora não”, revela, triste.

Em Vila Velha a situação não é diferente. A fome formou verdadeiros bolsões de pobreza, criminalizando uma multidão de pretos, pobres e desvalidos. Nas imediações do Terminal de Vila Velha é possível ver um terreno baldio onde essas pessoas queimam fios de cobre, empilham papelões, garrafas e escondem a dignidade perdida.

Ajuda? Não, não há. Nas prefeituras essas pessoas não encontram amparo. Primeiro porque não têm documentos, segundo porque, em situação de rua, ninguém os quer por perto.

O pouco que conseguem vem de voluntários, que servem marmitas, doam roupas e cantam louvores, como forma de atenuar a dor de todos.

Não entrei, nesta reportagem, na tragédia social causada pela pandemia. Essa foi ainda mais devastadora na vida de quem não tem sequer o que comer, quanto mais uma máscara ou álcool 70% para evitar o contágio.

Por: Alexandre Damazio