No momento em que o Espírito Santo passa por um novo pico de casos da Covid-19, o índice de ocupação de leitos de UTI para a doença também dá sinais de alerta, chegando a 85,92%, de acordo com a última atualização do Painel Covid-19 do Governo do Estado.
De acordo com especialistas e representantes de entidades médicas do estado, diante deste quadro, já começa a ficar difícil encontrar leitos para pacientes graves, especialmente nos hospitais privados da Grande Vitória.
“Já estamos com dificuldade de leito de UTI na rede privada. Eu acho que já há um risco do sistema entrar em colapso na segunda quinzena de dezembro. Não consigo ver outro cenário a não ser voltar a cancelar cirurgias eletivas e estabelecer um plano de contingenciamento para a Covid-19”, explicou o médico infectologista Lauro Ferreira Pinto.
A atual taxa de ocupação de UTIs está muito próximo do maior índice já registrado no estado, que foi de 86,58% em 5 de julho deste ano.
De acordo com os dados do governo estadual, somente na Região Metropolitana, 294 dos 338 leitos de UTI para a Covid-19 estão ocupados.
No entanto, a situação é mais crítica no Sul do estado, onde 67 dos 74 leitos de UTI estão ocupados, elevando a taxa de ocupação para 90,54%. O menor índice é o da região Norte, que registra 72,5% de ocupação de UTIs.
Para Lauro Ferreira Pinto, um possível esgotamento dos leitos no sistema privado pode também impactar o Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo ele, ainda que o estado possua outros leitos (715 de UTI e 817 de enfermaria), que podem ser usados para o tratamento da doença, a situação é preocupante, já que tais espaços precisam ser divididos também com os demais pacientes.
“Há casos de traumas, de acidentes, de infartos. Acho que teremos novamente esse estresse do serviço de saúde”, pontuou o médico.
O presidente da Associação Médica do Espírito Santo (Ames), Leonardo Lessa, também avalia que já existem dificuldades para a alocação de pacientes na terapia intensiva, mas acrescenta que isso já acontece não só na rede privada, como também na pública.
“Vemos isso com bastante preocupação. É necessário que o sistema responda de maneira rápida, na tentativa de aumentar a oferta de leitos e que a população contribua fazendo sua parte. As pessoas mais vulneráveis precisam ser preservadas”, afirmou.
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES), Celso Murad, disse que, durante uma reunião na última semana, o secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, garantiu que novos leitos serão providenciados.
“A gente espera que eles consigam fazer isso para dar tranquilidade à população. Foram muitos leitos desativados em função da queda, inclusive de terapia intensiva. Mas os casos estão voltando a adquirir a mesma gravidade do início da pandemia. Estamos assustados. Quem vai segurar essa reagudização é o SUS, e através de parcerias com a rede privada”, apontou Murad.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) foi procurada para comentar o assunto e explicar se o aumento da taxa de ocupação de leitos pode influenciar em mudanças no mapa de risco. Atualmente, 49 cidades do estado possuem risco moderado para a Covid-19 e apenas Mantenópolis tem risco alto.
O infectologista Lauro Ferreira Pinto ponderou que o respeito às normas de higiene de isolamento é fundamental.
“Esse que estamos vivendo é o pior momento porque a população está saturada e não cumpre o uso de máscara e o distanciamento. Mas o vírus não pensa em cansaço, ele continua ativo. Os idosos estão isolados, mas os jovens estão ativos e acabam entrando em contato com os grupos vulneráveis”, lembra o médico, que faz um alerta: “Os hospitais estão enchendo e mortes evitáveis vão acontecer”.
G1 ES