Sem representação política há 14 anos, Alegre vai tentar eleger deputado em 2022

Caléu já foi prefeito duas vezes, Toni Lemos herda a tradição familiar: os dois são pré-candidatos a deputado estadual

Mesmo com o maior colégio eleitoral da região do Caparaó, o município de Alegre está sem representante na Assembleia Legislativa desde 2008, quando o seu último deputado eleito, Elion Vargas (PRP/Prona) renunciou para assumir o cargo de promotor de Justiça. E quem o substituiu foi Dary Pagung (de Baixo Guandu), que nunca mais perdeu eleição. A cidade deixou de produzir novas lideranças e os poucos candidatos locais que se aventuraram nos pleitos seguintes tiveram votações inexpressivas.

Elion Vargas ocupou a 30ª vaga nas eleições de 2006 com 11.329 votos, dos quais 8.026 foram obtidos no município, o correspondente a mais de 50% dos votos válidos. Depois disso, passados 16 anos, o município vai tentar eleger novamente um deputado estadual.

Ou quem sabe dois deputados, uma vez que Alegre já teve, “nos bons tempos”, três representantes na Assembleia Legislativa, na década de 70: Paulo Barros, Oscar de Almeida Gama e José Rodrigues de Oliveira, que foi deputado desde a década de 50 e chegou a presidente do Legislativo Estadual em 1956.

EX-PREFEITO

Aos 70 anos de idade, o ex-prefeito José Carlos de Oliveira, o Caleu, pensa em ser candidato a deputado em 2022. “Se houvesse um nome com disposição para representar nossos anseios, tirar Alegre do buraco, eu até preferia apoiá-lo, mas, na ausência desse nome, sou pré-candidato a deputado estadual”, disse Caleo, que teve sua candidatura indeferida para prefeito em 2020 por inelegibilidade.

Caleu, professor universitário, foi prefeito entre 1993 e 1996 e, depois, entre 2001 e 2004. Depois, enfrentou problemas com a Justiça, relativos ao último ano de sua gestão, e chegou a ser condenado em primeira instância em 2016, mas o Tribunal de Justiça do Espírito Santo anulou a sentença em fevereiro de 2017 por cerceamento de defesa.

“Alegre já teve três deputados e hoje não tem mais nada, a não ser o polo universitário. Estamos perdendo tudo, não temos emprego, a economia está decadente, perdemos na saúde para Jerônimo Monteiro, Guaçuí e São José do Calçado. Ninguém faz nada pelo município, é por isso que estou colocando meu nome para ser deputado. Alegre era pujante, tinha políticos atuantes, e hoje perdeu tudo isso, se apequenou. Hoje até o festival de música, que tornava a cidade conhecida e movimentava a economia, não existe mais”, disse Caleu.

Outro nome que está se anunciando é o de Luiz Antonio Lemos, o cantor Toni Lemos. Se Caleu é da família Oliveira, Toni é filho do ex-prefeito Antonio Lemos Júnior e irmão do ex-deputado e ex-prefeito Paulo Lemos Barbosa, hoje prefeito em Ibitirama, antigo distrito de Alegre. Aos 65 anos, filiou-se ao PV para se habilitar a disputar a eleição. Em 2020, ele chegou a ser pré-candidato a prefeito pelo PP, mas renunciou ao favor do Capitão Rômulo.

Em declaração ao portal Aqui Notícias, Toni Lemos disse que sua principal atuação será para melhorar as condições de assistência à saúde da população. E relembrou sua luta contra o câncer em 2014. “Foi um milagre e agradeço a Deus por estar vivo. Vi muitas pessoas morrerem por falta de assistência adequada e quero me dedicar a mudar essa realidade”, disse Toni ao site regional.

 COLÉGIO ELEITORAL

Desde 2006, o eleitor alegrense parece ter desanimado de votar em candidatos locais, depois que o deputado Elion Vargas renunciou, dois anos após ser eleito, para tomar posse do cargo de promotor de Justiça, para o qual foi nomeado após aprovação em concurso público.

O município de Alegre tem o maior colégio eleitoral da região do Caparaó no Sul do Espírito Santo, com 23.571 eleitores, mas a cada dia perde mais a liderança na região por falta de representatividade política. Em 2018, Alegre perdeu 1,96% de seu território para Jerônimo Monteiro, num ajuste de limites feito pelo Governo do Estado e, com isso, pela primeira vez na história, desde a sua emancipação, Guaçuí passou a ter mais habitantes do que o município-mãe.

De acordo com estimativas do IBGE para 2021, Guaçuí tem 31.372 habitantes e Alegre caiu para 29.869. Em terceiro lugar vem Iúna, com 27.328 habitantes, município que tem crescido nos últimos anos por força da atividade econômica baseada no turismo e na cafeicultura.

Nas eleições de 2018, o vereador Mosca foi o mais votado para deputado no município, com 3.215 votos, muito aquém dos 8.026 votos dados a Elion Vargas (PRP/Prona) em 2006 e que compuseram seus 11.329 votos que lhe deram a 30ª vaga na Assembleia.

Candidatos de fora aproveitaram bem a situação e passaram a tirar grandes quantidades de votos na cidade. Em 2018, Luciano Machado e Theodorico Ferraço, eleitos deputados, tiveram mais de mil votos na cidade e o coronel Quintino teve quase 900 votos, talvez pela grande presença de militares e suas famílias na cidade, em função da sede do 3º Batalhão da Polícia Militar.

Nas eleições de 2014, a maior votação foi dada ao então vereador José Sorpriano Merço, com 4.117 votos, mas Braz Delpupo, de Venda Nova do Imigrante e com vínculos com a cidade, onde se casou e se formou em Agronomia, levou 2.794 votos (mas não se elegeu). Theodorico Ferraço teve outros 1.726 votos  e Edson Magalhães, atual prefeito de Guarapari e que é de Alegre, teve 966 votos.

A frustração com a renúncia de Elion Vargas parece ter se manifestado de forma clara nas eleições de 2010. Quando Paulo Lemos Barbosa teve apenas 3.932 dos 13.886 votos que conseguiu para deputado pelo PP, insuficientes para elegê-lo. Nessa eleição, Theodorico Ferraço levou 1.362 votos e Sérgio Borges foi o terceiro mais votado, com 952 votos. Diversos candidatos tiraram centenas de votos na cidade.

Quando Elion se elegeu em 2006, com mais de 8 mil votos na cidade, três candidatos também foram bem votados: Theodorico Ferraço com 1.295 votos, Robson Vailant, com ligações com a cidade, teve 1.221 e José Tasso de Andrade com 84 votos.

HERANÇA POLÍTICA

Se for mantida a “perda” histórica de 30% dos votos, Alegre deverá ter cerca de 15 mil votos nas urnas para deputado estadual. Se os candidatos que estão se habilitando conseguirem convencer o eleitorado, passam a ter chance, até pela nova configuração das eleições, com chapas puro sangue.

Caleu foi fundador do PTB e ficou no partido nos últimos 30 anos, com uma rápida saída quando o partido foi “tomado” por Max Mauro. Ele não disse se trocou de partido para as eleições deste ano. Ele vai buscar votos também em municípios vizinhos e tentar tirar proveito da lembrança do eleitor do nome da família Oliveira, que teve dois grandes políticos na cidade: Zezinho de Oliveira, já falecido, e Ary Fiorezzi de Oliveira, ex-prefeito, ainda vivo, prestes a fazer 104 anos.

Toni Lemos dedicou a vida à música e espera que isso o ajude a conseguir votos não apenas em Alegre, sua terra, mas na região do Caparaó e em todo o Estado, junto aos seus fãs. Também quer aproveitar o capital político da família, especialmente do pai, Antonio Lemos Júnior. Se o irmão Paulo resolver apoiá-lo, poderá ter boa votação também em Ibitirama, onde efetivamente nasceu. (Da Redação)