Rodrigo Janot é indicado por deputado capixaba para a Comenda Domingos Martins

Rodrigo Janot e Enivaldo dos Anjos

O procurador geral da República, Rodrigo Janot, que está de saída do cargo, depois de quatro anos, sendo substituído na próxima semana pela procuradora Raquel Dodge, foi indicado pelo deputado estadual Enivaldo dos Anjos (PSD) para receber a Comenda Domingos Martins, a mais alta honraria concedida pelo Legislativo do Espírito Santo.

O ofício com a indicação ao presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso, foi protocolado na tarde desta sexta-feira (15), último dia de efetivo exercício da função por Janot. Coincidentemente, a indicação do deputado é feita no dia em que o mineiro Rodrigo Janot Monteiro de Barros, nascido em Belo Horizonte, completa 61 anos.

Para o deputado capixaba, “é uma forma de a Assembleia do Espírito Santo presentear o procurador e dizer que está alinhada com as melhores ações de combate à corrupção no Brasil”.

“Nesses tempos em que o mau exemplo de homens e mulheres de negócio, de homens e mulheres públicas, joga a confiança do brasileiro para os mais baixos níveis de sua história, é preciso parar para pensar e reconhecer o esforço daqueles que arriscam sua reputação, sua carreira e sua história para tornar este País um lugar melhor para a atual e as futuras gerações”, acentuou o deputado na justificativa da indicação.

Envaldo dos Anjos lembrou que processo semelhante de limpeza ética foi empreendida na Itália e traçou um paralelo entre as operações “Mãos Limpas”, ialiana, e Lava Jato, brasileira: “O episódio italiano, entretanto, deixou-nos lições poderosas: a máfia não dorme. Ela reage e, quando não mata fisicamente, se movimenta para matar, moralmente, os que a ferem, como uma serpente que busca se vingar de seus agressores. É quase uma luta titânica entre os Anjos do Bem e os anjos do mal”.

De acordo ainda com o parlamentar capixaba, é importante remeter à história do caso italiano, seja pela similaridade com a Operação Lava Jato, seja pela transmissão de uma cultura de enfrentamento à corrupção e a promiscuidade nas relações entre a política e o poder privado, ou ainda pelo poder de reação dos criminosos, organizadamente.

“Em meio à história brasileira, surge a figura do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, que ousou enfrentar os poderosos desse País, subsidiando o trabalho dos procuradores que comandam a Operação Lava-Jato. Janot está passando o comando da PGR e é importante que a sociedade reconheça o seu trabalho para que sua substituta mantenha o mesmo padrão de luta da instituição contra o mal que assola nosso País”, asseverou.

Quem é Rodrigo Janot

Rodrigo Janot Monteiro de Barros formou-se em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais em 1979, e pela mesma universidade concluiu especialização em 1985 e mestrado em 1986. Realizou, também, especialização na Scuola Superiore di Studi Universitari e di Perfezionamento S. Anna (Pisa, Itália) de 1987 a 1989 (nessa época, a Itália já investigava o caso do Banco Ambrosiano, que levou à Operação Mãos Limpas).

Atuou como advogado de 1980 até 1984, quando ingressou na carreira do Ministério Público Federal como procurador da República. Foi promovido a procurador regional da República em 1993 e a subprocuradorgeral da República em 2003. Foi secretário geral do MPF de 2003 a 2005.

Em 2013, foi escolhido pela presidente Dilma Rousseff para substituir Roberto Gurgel no cargo máximo da Procuradoria-Geral da República, tendo tomado posse em 17 de setembro de 2013. Janot venceu eleição interna da Procuradoria para ser reconduzido à função em agosto de 2015. Com mais de 300 votos de vantagem sobre o segundo colocado, Janot teve 799 votos, 288 votos a mais do que na eleição de 2013.

Dentre os principais trabalhos de Rodrigo Janot frente a Procuradoria Geral da República está a Operação Lava Jato, que está repatriando para o País bilhões e bilhões de dólares mandados para o Exterior através de esquemas de corrupção.

Em 19 de dezembro de 2016, Rodrigo Janot entregou ao STF os acordos de delação premiada de 77 executivos da empreiteira Odebrecht, firmados com a força-tarefa de investigadores do Ministério Público Federal (MPF) na operação Lava Jato. Era a revelação do maior esquema de parceria público-privada da corrupção da história do País.

O que foi a Operação Mãos Limpas

A Operação Mãos Limpas (em italiano, “mani pulite”), inicialmente chamada “Caso Tangentopoli (em português, “cidade do suborno” ou “cidade da propina”, termo cunhado pelo cronista Piero Colaprico, do jornal La Repubblica, referindo-se à cidade de Milão), foi uma investigação judicial de grande envergadura.

Teve início em Milão e visava esclarecer casos de corrupção durante a década de 1990 (1992-96) na sequência do escândalo do Banco Ambrosiano, revelado em 1982, que implicava a Máfia, o Banco do Vaticano e a Loja Maçônica P2.

A Operação levou ao fim da chamada Primeira República Italiana (1948-94) e a profundas mudanças no quadro partidário, com o desaparecimento de vários partidos políticos. Muitos políticos e industriais cometeram suicídio quando seus crimes foram descobertos, enquanto outros se tornaram foragidos, dentro e fora do País.