Prefeito fala de “profundas transformações” com nova ferrovia no Norte do Estado

Um passo gigantesco foi dado para execução do maior projeto logístico do século XXI no Espírito Santo, cerca de 100 anos depois da implantação da Estrada de Ferro Vitória-Minas: a autorização, pelo Governo Federal, para construção da Estrada de Ferro Minas-Espírito Santo, ligando Ipatinga, no Vale do Aço, ao futuro Porto de São Mateus, no litoral Norte.

A autorização foi assinada pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, junto com o presidente da Petrocity Ferrovias, José Roberto Barbosa da Silva, em solenidade de lançamento do programa Pro-Trilhos com a presença do ministro Paulo Guedes, da Economia, e do presidente da República, Jair Bolsonaro. Foram 10 autorizações para projetos privados em todas as regiões do País.

Articulador do Rota 381 – Movimento Pró-Corredor Logístico Norte(ES)-Leste(MG), o prefeito de Barra de São Francisco, Enivaldo dos Anjos (PSD), comemorou a autorização da ferrovia e falou em “profundas transformações nas duas regiões”, que são contíguas.

Barra de São Francisco será a porta de entrada para o Espírito Santo, recebendo uma UTAC – Unidade de Transbordo e Armazenagem de Cartas, que será um porto seco alfandegado. “É um novo tempo que se anuncia para nossa região e estamos preparados para assumir esse protagonismo”, disse Enivaldo, signatário, junto com os prefeitos André Melo, de Governador Valadares, é Daniel Santana, de São Mateus, de um manifesto ao ministro Tarcísio Freitas e ao Presidente da República, em março deste ano, em defesa da duplicação da BR 381 entre Valadares e São Mateus e da construção da EFMES.

REVOLUÇÃO

Presidente da Asociação Brasileira de Executivos de Logística e Atividades Portuárias (Abelap) e da holding Petrocity, José Roberto Barbosa da Silva salientou que a autorização para a construção da ferrovia de São Mateus a Ipatinga, assinada pelo Ministério da Infraestrutura na última quinta-feira (2), “é um projeto muito grande agora e vai causar uma grande transformação econômica, social e geográfica em toda a região Norte do Espírito Santo e no Leste da Bahia”.

Barbosa deu mais detalhes da ferrovia, que teve seu trecho, anteriormente previsto para ir até Sete Lagoas (MG), reduzido para 420km por uma questão de estratégia e economicidade: “Não temos grandes obstáculos geográficos, o trecho é todo em planícies, o que reduz em muito os custos de implantação, além do fato de que 75% das cargas do range estar nesse trecho”.

A ferrovia será construída com bitola larga (1,60 metro), o que possibilitará velocidade e carga transportada 60% maiores do que o padrão histórico das ferrovias brasileiras, de bitola estreita (1,0metro). Entretanto, haverá um terceiro trilho interno na estrada de ferro para possibilitar a conexão com a malha ferroviária nacional, implantada a partir do século XIX – o Barão de Mauá, grande patrono da implantação desse modal, foi quem teve a primeira autorização para construir uma ferrovia, em 1852, do Porto de Estrela, no fundo da baía da Guanabara, até Fragoso, na Raiz da Serra. Sua intenção era subir até Petrópolis e, posteriormente, alcançar Minas Gerais e São Paulo.

SAL GEMA

Apenas dois parlamentares capixabas – Evair de Melo (PP) e Soraya Manato (PSL) – participaram da solenidade em Brasília, em que havia mais de 20 representantes da bancada federal de Minas Gerais, dentre eles o senador Carlos Viana (PSD), vice-líder do Governo no Senado. O coordenador da bancada capixaba, deputado federal Da Vitória (Cidadania), porém, justificou a ausência por estar participando da audiência pública em Conceição da Barra para discutir a exploração de sal gema no município.
O sal gema de Conceição da Barra, segundo José Roberto, será um dos beneficiados pela estrutura logística que está sendo montada pelo Grupo Petrocity, com porto em São Mateus, navios de cabotagem, que serão construídos no Estaleiro Enseada, na Bahia, e, agora, a ferrovia autorizada pelo Governo Federal. O início da exploração da riqueza mineral deverá coincidir com a inauguração da ferrovia.

“A ferrovia permitirá o transporte de sal gema para as indústrias de Minas Gerais e nosso porto mandará, por cabotagem, esse produto para o Norte e Sul do País”, disse José Roberto.

A ferrovia já está dando os primeiros passos: “A equipe técnica já está realizando estudos para definir os locais onde teremos peras de manobras para permitir a passagem de trens em sentidos opostos. Em princípio, já sabemos que isso ocorrerá nas cidades onde teremos as UTACs (Unidades de Transbordo e Armazenagem de Cargas), São Mateus e Barra de São Francisco, no Espírito Santo, e Governador Valadares e Ipatinga, em Minas Gerais. Vamos estudar se precisaremos ter outras peras em outros trechos da ferrovia”, disse José Roberto.

Na construção do primeiro projeto havia previsão de 4.500 empregos, mas, com a redução da extensão da ferrovia, José Roberto Barbosa da Silva prevê em torno de 2 mil empregos na obra, prevista para começar em 2023.

“Será uma obra relativamente rápida, com três a quatro anos para execução, mas a quantidade de empregos que a ferrovia vai gerar no Norte-Noroeste do Espírito Santo e Leste de Minas ainda precisa ser melhor dimensionado. É importante salientar que não é uma questão dos empregos que serão gerados na construção da ferrovia, mas em toda a cadeia e na rede produtiva que se criará nessa região. Daqui a 30 anos, o Brasil será outro. É o Brasil de nossos netos. Vamos tomar um chá e contemplar o resultado do que estamos fazendo agora”, disse o executivo.

A previsão do Ministério da Infraestrutura é que as ferrovias passem a responder por 40% dos modais de transporte brasileiros. “No passado, fizemos escolhas ruins”, disse o ministro Tarcísio Gomes de Freitas, ao assinar as primeiras dez autorizações para construção de ferrovias privadas no País, dentre elas da Petrocity Ferrovias, que ligará o Vale do Aço ao Centro Portuário de São Mateus, da Petrocity Portos, em Urussuquara, no litoral Norte capixaba. “Mas agora estamos nos reencontrando com a história ferroviária brasileira”, completou o ministro, referindo-se ao modelo de autorizações do início da era ferroviária, ainda nos tempos do Brasil pré-republicano.

A Ferrovia Ipatinga-São Mateus terá investidores internacionais, que o CEO da Petrocity Ferrovias antecipou apenas serem europeus e asiático. A construção será feita por uma empresa brasileira que tem expertise em construções ferroviárias mundo afora, a Odebrecht Engenharia.

De acordo com José Roberto, algumas empresas já estão trabalhando no projeto:“A Bios, brasileira, do Paraná, especializada em regularização fundiária, já está fazendo trabalho de campo, sob coordenação de Wagner Barroso, por conta da necessidade de atravessar áreas particulares. A BWL está fazendo ambiental, para elaboração de termos de referência dentro do padrão definido para ferrovias dentro do governo. A Extreme Tecnologia, que tem o maior contrato dentro do Governo, junto com a Amazon, está com outra empresa, a Smart, desenvolvendo ferramentas de tecnologia para a operação. Ou seja, estamos dando os primeiros passos”.

A holding Petrocity hoje é composta por quatro empresas: a Petrocity Ferrovias; Petrocity Energia, Petrocity Navegação e Petrocity Portos. Em todas elas a empresa mãe tem participação societária. Em cada uma, porém, há sócios diferentes, com presença de investidores nacionais e internacionais.