Paralisação de motoristas em Guarapari chega ao terceiro dia; apenas oito ônibus circulam

O transporte público de Guarapari permanece paralisado, nesta quarta-feira (15), em continuidade ao protesto dos motoristas e cobradores, que teve início na última segunda-feira (13). Diferente dos dias anteriores, nesta quarta apenas oito coletivos circulam no município.

A categoria alega que há atraso no pagamento, no valor de um salário e meio. Segundo os trabalhadores, o salário referente ao mês de abril, vencido em maio, foi pago apenas a metade. Já o pagamento que deveria ser depositado em junho, não foi creditado.

O motorista Wellington Soares, colaborador da empresa Expresso Lorenzutti há 6 anos, afirmou que os atrasos no pagamento têm se repetido há pelo três anos, ou seja, desde o início da pandemia de covid-19. “A gente que trabalha na rua vê que entra dinheiro, mas nunca nos deram prioridade. Até antes da pandemia a gente não tinha do que reclamar. Sabemos que eles passaram por momentos difíceis, mas agora não suportamos mais”, desabafou.

“A empresa sempre promete salário e não cumpre. Sei que o juiz impôs multa diária pela falta de pagamento em dia, mas não adianta. Nesta segunda, chegamos na garagem cedo e em nenhum momento fechamos o portão. Tentamos conversar com calma. Como não tivemos resposta, cruzamos os braços. Na terça, aconteceu a mesma coisa e agora estamos no terceiro dia. Alguns colaboradores saíram normalmente, nós não impedimos ninguém”, disse Soares.

De acordo com o relato do condutor, colegas chegaram até a vender a geladeira para pagar as dívidas. “Não temos mais cabeça, temos filhos e contas. Só vamos regularizar a situação quando a empresa cumprir com a palavra. Nós não estamos proibindo ninguém de trabalhar, mas estamos sendo intimidados com ameaças de demissão por justa causa. Inclusive estão contratando gente sem experiência para ir para a rua, o que é um grande risco à população”, continuou.

Trabalhadores ainda afirmam que a proposta apresentada pela empresa foi de pagar 50% do valor do salário atrasado referente a maio em 15 dias. Já o pagamento de junho, não teria sido dada previsão de pagamento. Até o momento, a proposta não foi aceita.

O que diz a empresa

A assessora jurídica da empresa de transporte, Bianca Lorenzutti, informou que, atualmente, está em vigor uma decisão judicial do TRT, que mantém o funcionamento de 80% do serviço de transporte no horário de pico e 70% no entre pico.

“Entretanto, esta vem sendo descumprida desde o último dia 13 e houve a paralisação de 100% da frota de transporte, ato este que é ilegal. O transporte público de passageiros é serviço essencial e deve ser mantido, ainda que em estado de greve, a fim de não prejudicar a população e os que mais precisam do transporte público, visto que o transporte individual de táxi, uber e vans clandestinas não transportam as gratuidades e estudantes do município. O descumprimento que está acontecendo já foi informado pelo Sindicato das empresas ao TRT”, afirmou.

Sobre a paralisação atual, que teve início na segunda-feira, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT-ES) informou que nenhum processo foi localizado.

A assessora jurídica também destacou que a empresa já entrou com ação na Justiça junto à Vara da Fazenda Pública, em busca do reequilíbrio contratual. “Isso porque há constantes aumentos no preço do diesel, além de aumentos salariais e de benefícios da categoria em 11,08%, sem contar com o desequilíbrio ocasionado pela falta de subsídio e/ou reajustes tarifários que seriam outras ideias para custear o sistema”, acrescentou.

Segundo Bianca, hoje a empresa tem um custo mensal com a folha de pagamento de mais de R$ 350 mil, além do vale-alimentação de mais de R$ 200 mil.

“A única fonte de custeio do sistema são as tarifas pagas, não havendo fonte de custeio de gratuidades e nem subsídio de óleo diesel, como em inúmeros sistemas de transporte no país inteiro. Reiteramos que essa greve, desde início, tem afetado a receita da empresa, e tem trazido prejuízos incalculáveis, tanto para a população, quanto para trabalhadores e empresa”.

O que a Lorenzutti aponta que já foi feito

De acordo com a assessoria jurídica da empresa, a Expresso Lorenzutti vem mantendo em dia todos os pagamentos de férias e os acordos de pagamentos dos salários de março, que correspondem mensalmente a um custo aproximado de R$ 70 mil.

“Na quinta-feira passada (09), a empresa concluiu o pagamento do vale-alimentação, desembolsando mais de R$ 200 mil. E desde então vem juntado para concluir o pagamento da folha, sendo que, nesta terça (14), realizamos o pagamento de 30%, totalizando assim mais de 55% do pagamento vencido em 10 de maio, que corresponde a aproximadamente R$ 170 mil já pagos”, afirmou.

“Receita é insuficiente”

Questionada, a empresa alegou que a receita adquirida nos coletivos é insuficiente para cobrir os custos do sistema atual. “É muito difícil manter em funcionamento uma empresa com o valor a ser pago determinado pela Prefeitura, bem como as rotas são determinadas também pelo município. Contudo, na hora de cobrir os custos, a prefeitura não pensa no equilíbrio do contrato”, ponderou.

Justa causa

Sobre as supostas demissões por justa causa alegadas pelos colaboradores da empresa, Lorenzutti afirmou que foram aplicadas para alguns funcionários que têm intimidado e faltado com respeito aos demais colegas de trabalho e com superiores hierárquicos.

Posicionamento da Prefeitura de Guarapari

A reportagem procurou a prefeitura de Guarapari para que se posicione sobre soluções que vêm sendo buscadas para dar fim à paralisação, bem como se a oferta de subsídio ao transporte público está sendo analisada pela municipalidade. O texto será atualizado quando houver retorno.

Informações: Folha Vitória