Obras do porto da Petrocity só dependem da licença ambiental

A maior obra de infraestrutura do País neste início de século XXI, totalmente com recursos privados de investidores brasileiros e estrangeiros, consolidando a posição do Espírito Santo como porta para o comércio internacional, depende apenas de um detalhe: a liberação da licença ambiental.

“Se liberar num dia, no outro começamos o processo de contratação de mão de obra para a construção”, garante o administrador José Roberto Barbosa da Silva, 56 anos, presidente da Petrocity, a controladora do pool de empresas envolvidas no megaprojeto, que envolve o complexo portuário e, subsidiariamente, outra unidade de negócio, a Estrada de Ferro Minas-Espírito Santo, a maior ferrovia projetada para o País neste início de milênio, também com recursos privados.

José Roberto, da Petrocity: “Estamos reiniciando a construção do Brasil que queremos”

Todos os contratos já estão assinados, somente esperando pela única parte que compete ao poder público: o licenciamento ambiental, cujas burocracia e dificuldade de desembaraço para os pedidos chegam do setor privado estiveram no centro dos debates promovidos nos últimos quatro ano pelo Poder Legislativo do Espírito Santo, através da Comissão Especial de Granitos e Rochas Ornamentais, que concluiu seu relatório sugerindo a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito.

INVESTIMENTO BILIONÁRIO

A Odebrecht receberá R$ 2,1 bilhões pela obra do porto, seu maior contrato desde o início da Lava-Jato

O projeto do complexo portuário é gigantesco. A empresa já contratada para as obras civis é a brasileira mais bem posicionada nesse tipo de construção no mundo inteiro, já tendo construído 52 portos no mundo e 19 no Brasil: a Construtora Norberto Odebrecht. Será a primeira grande obra da maior empresa brasileira de infraestrutura, desde que teve seus executivos envolvidos no imbróglio da Operação Lava-Jato.

“São coisas muito diferentes. Não podemos desprezar a expertise de uma empresa nacional como a Odebrecht por causa dos problemas que ainda estão apurados pela Justiça. O Brasil sofreu um grande baque no seu projeto para se tornar uma potência mundial. O nosso projeto é o primeiro para retomar nossa caminhada para o futuro. O porto e a ferrovia não são sonhos, são projetos detalhadamente estudados e altamente factíveis”, registra o presidente da Petrocity.

O contrato com a Odebrecht consumirá R$ 2,1 bilhões do total de R$ 3,13 bilhões que serão investidos só no complexo portuário, que começarará a operar com capacidade de movimentar 14 milhões de toneladas de cargas diversas, com destaque para a exportação de rochas ornamentais produzidas no Noroeste do Espírito Santo, Leste de Minas e Sul da Bahia e que chegarão ao porto, em boa medida, através da ferrovia EFMES, que cortará os municípios capixabas de Barra de São Francisco, Nova Venécia e São Mateus.

“Nossos estudos mostram que o retorno do investimento se dará entre seis e oito anos, o que é muito pouco para um projeto desta grandeza, mas o que estamos construindo é o primeiro passo para o Brasil que sonhamos”, acrescenta José Roberto, confirmando a geração de 2.500 empregos diretos na fase de construção e 2.000 empregos quando o porto entrar em operação, na região de Urussuquara, em São Mateus.

DEMANDA REPRIMIDA

Navio Suezmax Zumbi dos Palmeiras, da Petrobras

O projeto da “maior plataforma logística do Brasil” surge para atender a uma demanda que está reprimida há 20 anos, segundo os empreendedores, com impacto direto num raio de 300 km, numa hiterlândia que cobre, especialmente, as regiões Norte e Noroeste do Espírito Santo, e boa parte dos territórios dos Estados da Bahia e Minas Gerais, inclusive o Vale do Jequitinhonha.

O porto terá calado de 16 metros e capacidade para receber os maiores navios do mundo, os modelos panamax (calado de 12 metros) e suezmax (calado de 16 metros) – esses dois modelos referem-se a tamanho de embarcações que conseguem passar pelos canais do Panamá, que liga o Atlântico e o Pacífico, na América Central, e de Suez, no Egito, ligando os Mares Mediterrâneo e Vermelho, permitindo o acesso à Ásia Meridional, para alcançar o grande mercado oriental e, assim, evitando o contorno da África e reduzindo a viagem em 7.000 km.

Uma onda de entusiasmo começa a contagiar o setor produtivo ao Norte da Grande Vitória, com a mobilização de grandes empresas, principalmente do setor de granito, para a viabilização da ferrovia que permitirá redução superior a 50% nos preços de transporte das rochas ornamentais capixabas, que representam mais de 60% da produção nacional, ganhando competitividade no mercado internacional.

E não apenas o pessoal das rochas ornamentais, mas também todo e qualquer empreender, do menor ao maior, que poderá se beneficiar da “onda de prosperidade” prevista pelo professor Darlan Campos, para a região Norte e Noroeste do Estado.

(Série de reportagens diárias produzidas pelo jornalista José Caldas da Costa sobre o projeto que desenha um novo Eldorado econômico no Brasil)