Eloi, a caminho do Santos: “Quero deixar um legado aos capixabas”

Craque dos anos 70 e 80 revela momentos de emoção no futebol, ao lado de Zico e Roberto, na Seleção Carioca, e encontrando Pelé no vestiário da Vila Belmiro. 

Eloi realizou, na Seleção Carioca, o sonho de jogar ao lado de Zico e Roberto Dinamite: “No Rio, só não joguei no Flamengo” (Foto: Arquivo Pessoal)

Por: José Caldas da Costa

Francisco Chagas Eloi completa 66 anos de idade no dia 17 de fevereiro próximo e, três dias depois, desembarca no Espírito Santo pela primeira vez como técnico de futebol com o mesmo entusiasmo de seus melhores dias em equipes profissionais brasileiras e europeia e com uma promessa: “Independente do time que eu passar aí, quero deixar um legado. Quero que as pessoas se lembrem de mim pelo ser humano e pelo profissional. Que as novas gerações possam se inspirar nas histórias que tenho para contar e nos ensinamentos que trago delas”.

E história é o que não falta. As novas gerações, jovens e adolescentes que gostam de futebol, talvez nunca tenham ouvido falar dele, mas Eloi fez história por onde passou, nos anos 70,80 e início de 90, seja no futebol europeu, onde foi campeão da Champions League, como em times brasileiros como Vasco, Botafogo, América, Fluminense, Cruzeiro e Santos, onde viveu a maior emoção de sua vida.

AO LADO DO REI

“Nem nos meus melhores sonhos eu poderia me imaginar sentado ao lado de Pelé, o ídolo maior de minha geração e de tantas posteriores, como se vê. Eu tinha vários times para escolher jogar, mas escolhi o Santos por causa do Pelé, mas não poderia imaginar o que me aconteceu. Cheguei no vestiário antigo da Vila Belmiro e o único armário que tinha nome era o do Pelé. E meu armário era do lado, mas o que veio a seguir e não me esqueço: quando sentei no vestiário, veio o Pelé e sentou-se ao meu lado. Isso vale tudo”, disse Eloi.

O encontro com Pelé: “Ele me falou que eu era o craque que ele queria no Santos. Perdi o chão”. (Arquivo Pessoal)

Na verdade, Eloi era o craque que o “Rei” queria no Santos. O meia foi revelado nas categorias de base do modesto Andradina, da cidade paulista de Andradina, onde ele nasceu. Porém, foi entre 1975 e 1977 que foi observado defendendo a camisa do Juventus da Rua Javari.

A Portuguesa do craque Enéas o contratou em 1978 e no Canindé viveu duas temporadas. Porém, acabou sofrendo com os constantes atrasos salariais e junto com mais seis jogadores deixou a Lusa rumo à Inter de Limeira, onde jogou ao lado do lateral capixaba Suemar, hoje falecido, pai da atleta de handebol Alexandra Nascimento, campeã mundial pela Seleção Brasileira em 2013.

Destacou-se pela Inter de Limeira, foi Bola de Prata da revista Placar e foi contratado pelo Santos, a pedido do próprio Pelé: “Eu vi o Pelé pela primeira vez no Santos e isso me deixou fora de mim. Era impressionante como a personalidade dele marcou quem vive e quem gosta do futebol. Nos meus sonhos de criança eu jamais imaginaria que estaria frente a frente com ele. Quando ele me viu mandou essa: ´Eloi, você era o craque que eu queria ver no Santos´. Pronto, demorei muito para cair a ficha”.

No Rio, Eloi só não jogou no Flamengo, mas recorda-se bem de outro momento memorável: “Fui convocado para uma Seleção Carioca para um jogo contra a Seleção Paulista (5 x 4) e eu estava lá, posando na foto, com o Roberto Dinamite de um lado e o Zico, outro grande ídolo, do outro, com a mão sobre o meu ombro. A gente vai guardando essas lembranças e trazendo para a vida como uma bússola para não esquecer a direção certa”.

SANTOS DE NOVO

Ser convidado pelo empresário José Carlos Carioca, a pedido de Enivaldo dos Anjos, para retomar como técnico o projeto da volta do “Terror do Norte”, mexeu com as emoções de Eloi: “O Zé Carlos, em quem tenho muita confiança, me falou das pessoas e de que o time também é Santos, usa as cores e até o escudo igual ao do Santos de Pelé. Vai ser gostoso de ativar essas memórias e poder entregar um pouco de mim para a volta do futebol na cidade. Ouvi falar bem de Barra de São Francisco e no dia 20 de fevereiro eu chego para conhecer a cidade e as pessoas, mas já chego de vez para começar a trabalhar”.

Eloi, ao lado de Zé Carlos Carioca, desembarca em Barra de São Francisco no próximo dia 20

Do futebol capixaba, Eloi já teve amigos em alguns clubes, como o Rio Branco, e jogou contra o Linhares nas semifinais da Copa do Brasil de 1994, quando defendia as cores do Ceará aos 38 anos de idade. No início dos anos 90, ele havia passado dois meses no Estrela do Norte: “O presidente lá era vascaíno, me procurou e falou que o sonho dele era que um grande jogador do Vasco jogasse pelo Estrela. Falei: vamos lá realizar esse sonho. Fiquei dois meses, não cheguei a disputar o Campeonato Capixaba. Voltei porque percebi que ainda tinha muito o que jogar no futebol”.

Eloi é o tipo de atleta que não envelhece porque se cuida. Aos 65 anos, ainda joga pelos times máster do Vasco e do Botafogo, corre e bate “minhas peladas com os amigos”. Conta que sempre se cuidou, mas também agradece porque nunca teve uma contusão séria. “Quando o jogador sofre contusão séria, a carreira começa a ser prejudicada e, depois que para, não tem mais ânimo. Eu diria que sou um atleta sexagenário. Vou chegar em Barra de São Francisco e correr com a moçada”, desafiou.

FUTEBOL MODERNO

Mas, o que o Santos e o futebol capixaba podem esperar, como técnico, do ex-meia habilidoso e criativo dos anos 70 e 80? Eloi reafirma que o que mais deseja é deixar um legado e, quem sabe, “dar uma sacudida no futebol capixaba”. Ele é partidário do futebol moderno praticado na Europa e crítica as reações dos técnicos brasileiros à chegada dos europeus, resistência criada a partir do momento em que Jorge de Jesus chegou para o Flamengo.

“Passei dois anos no Porto, fui campeão da Champions League e já naquela época, em 1986 e 87, descobri que os técnicos brasileiros já estavam 20 anos atrasados em relação aos europeus. Os caras lá tinham estudado o futebol e continuam estudando, por isso que o Jesus fez essa revolução com o Flamengo. É nessa proposta que eu acredito e vou levar isso para o Santos, mesmo que ainda esteja recomeçando por uma competição amadora. Fico feliz de saber que o presidente de honra quer o time de volta ao profissionalismo. Quero dar minha contribuição”, disse Eloi.

O ex-meia, que já andou sendo técnico de alguns times, o último deles o América do Rio – “sem estrutura nenhuma, sem apoio aos atletas, muito diferente daquele time Campeão dos Campeões de 1982, onde joguei” -, promete não deixar passar um dia sequer sem ensinar o que sabe.

“Há pouco tempo vi uma entrevista do Murici criticando o fato de os treinadores europeus que vêm para o Brasil darem descanso aos jogadores. Mas ele está errado. O atleta tem que se recuperar, por isso que o técnico europeu faz revezamento. Na minha época, os caras falavam que um 10 como eu não era para marcar, era para esperar lá na frente e decidir o jogo. A gente fazia isso, mas hoje em dia todo mundo tem que participar do jogo. O futebol hoje é 90% condicionamento físico e 10% técnica. Não ter essa visão está fazendo o futebol brasileiro perder todas as Copas e não sei quando ganharemos de novo”, disse.

E finaliza: “Minha filosofia é essa. Se fosse trabalhar num clube já formado, os jogadores teriam que ter a mentalidade de que o futebol evoluiu. Só jogar bola hoje não resolve”.

Portanto, quem for jogar no Santos de Barra de São Francisco com Eloi já pode se preparar, pois já sabe o que vai encontrar. “Eloi tem capacidade e história. Trabalhei 10 anos com o Enivaldo no Rio Branco e estou feliz de voltar agora com o Santos e, a partir de Barra de São Francisco, impactar o futebol capixaba”, revelou o empresário José Carlos Carioca.