Deputado federal prevê impacto nacional com porto em São Mateus e nova ferrovia

Felipe Rigoni vê grande virada para a economia não apenas do Norte-Noroeste, mas também para o Centro-Oeste brasileiro, com o complexo logístico da Petrocity

Deputado federal mais novo do Espírito Santo, eleito com 84.405 votos, surpreendendo o mercado político como segundo mais votado do Estado, Felipe Rigoni(PSB), 27 anos, vai abraçar em Brasília a defesa política dos projetos do Complexo Portuário de São Mateus (CPSM) e da nova ferrovia Estrada de Ferro Minas-Espírito Santo (EFMES) por entender que são projetos sustentáveis “que vão representar a grande virada da economia brasileira”.

Exagero? Não. O jovem deputado enxerga, sim, a revolução do desenvolvimento das regiões Norte e Noroeste do Espírito Santo, mas vai muito além: “Será um forte impacto sobre o Norte do Espírito Santo, Leste de Minas e Sul da Bahia, que estão com a economia estagnada, mas a ferrovia ligando o porto a Sete Lagoas, em Minas, vai mudar a rota das exportações de grãos de parte do Cerrado e do Mato Grosso, que hoje saem com dificuldade por Santos e Rio, e virão para o Espírito Santo”.

Felipe Rigoni considera o projeto da Petrocity sustentável e vai defendê-lo, politicamente, em Brasília

O parlamentar enfatiza que, dos vários fatores para o sucesso e o desenvolvimento econômico, três se destacam: o equilíbrio fiscal, a qualidade dos serviços públicos e o ambiente de negócios favorável, “e isso implica em infraestrutura, que será criada por esses dois projetos, o porto e a ferrovia”.

PRODUTIVIDADE

Para Rigoni, se o País quer melhorar sua produtividade tem que melhorar a qualidade da infraestrutura: “O estoque brasileiro de infraestrutura é de 36% em relação ao PIB, quando a média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é de 70% a 80% de estoque em infraestrutura. É isso que repercute na diferença de produtividade que temos no Brasil em relação a outros países desenvolvidos do mundo”.

O porto, sozinho, já terá grande repercussão, na avaliação de Felipe Rigoni, mas “a construção da ferrovia acoplada ao projeto do porto fará deste o maior complexo logístico do Brasil, destravando a economia de uma grande área do País, não apenas com o que já é produzido, mas criando capacidade de se produzir mais coisas e coisas melhores, que hoje não são produzidas nessa região por dificuldade de escoamento”.

E volta na questão do Centro-Oeste: “O complexo logístico, que será multimodal, vai alavancar o desenvolvimento reprimido do Centro-Oeste, que hoje escoa produção por rodovias e passará a contar com uma ferrovia, onde os custos de transporte são mais baratos e eficientes”.

A existência da UTACs (Unidade de Transbordo e Armazagem de Cargas) em Sete Lagoas, Aeroporto de Confins (para cargas de alto valor agregado), Santa Rita do Itabira, Governador Valadares e Barra de São Francisco “vai promover o desenvolvimento descentralizado do País, que precisa conectar as regiões com produção econômica e qualidade de vida para a população”.

E um fator que entusiasma o deputado Felipe Rigoni é que os dois projetos são totalmente privados. “Além disso, estaremos no Sudeste, mas dentro da área da Sudene, na verdade, o único complexo dessa natureza com essa característica, com potencial para crescente atividade exportadora, mas também para o mercado interno, através do transporte de cabotagem (navegação de curso menor, entre diferentes pontos do litoral brasileiro, que tem mais de 7 mil quilômetros)”.

DESAFIOS

Mas restam desafios também com projetos dessa grandeza. O primeiro deles, segundo Felipe, relaciona-se ao poder público, porque somente em São Mateus serão gerados 10 mil empregos entre diretos e indiretos.

A segurança pública terá que ser reestruturada para comportar o crescimento da população, avalia deputado

“Isso atrai mais gente para a região pela oferta de empregos e pelo aumento da atividade econômica, mas as cidades não estão preparadas. Não têm oferta de escolas públicas, saúde e segurança, que já é um problema, porque os batalhões da Polícia Militar já trabalham abaixo do que é necessário. Com o aumento da demanda, isso tende a se agravar. Essa será uma preocupação minha como deputado federal, melhorar a infraestrutura dos municípios”, disse Rigoni.

A qualidade dos gestores públicos nos municípios, tanto no Executivo quanto no Legislativo, é outro aspecto que o deputado federal acredita que precisar ser enfrentado imediatamente: “Esta é uma missão do Renova Brasil. Vamos formar novos líderes, de forma plural e diversa. Precisamos atacar todas as frentes de uma única vez. Há muita coisa para ser feita, e ser feita logo”.

Natural de Linhares, onde obteve 35% dos votos de deputado federal (25.721 votos), Felipe Rigoni prevê um impacto positivo e até modificador da produção econômica do município com o complexo logístico de São Mateus. Ele acredita que Linhares, que já tem um crescimento acima da média, com a instalação de novas indústrias e diversificação da produção tanto agrícola quanto industrial, tenderá a aumentar sua participação da pauta de exportações do Estado.

O desenvolvimento econômico presente, no entanto, segundo avalia Felipe Rigoni, não pode comprometer o futuro, “isto é desenvolvimento sustentável, respeitando a capacidade do planeta”. Neste quesito, Felipe defende a existência das agências reguladoras, mas com regras bem definidas.

“A questão ambiental é usada hoje pelos governantes para travar projetos que não são de seu interesse. É conduzida não só somente de maneira a beneficiar a economia e o meio-ambiente, mas a interesses muitas vezes pessoais e de grupos. Não podemos mais conviver com um sistema que engaveta processos de pedido de licenciamento. O sim e o não precisam sair com celeridade. Não tem problema dizer não, tem problema é levar três anos para fazer isso”, alertou.

RECADO DAS URNAS

O deputado federal eleito Felipe Rigoni, que é o primeiro parlamentar cego eleito no Brasil, disse que as urnas deram um recado claro de que a política precisa ser feita mais próxima das pessoas: “Meu mandato terá um aplicativo para o cidadão interagir, conhecer o que está sendo feito, sugerir projetos de leis, debates. Ninguém vai precisar encontrar-se comigo para fazer isso. Estaremos o tempo inteiro junto ao eleitor”.

Rigoni tem bem claro quais são as grandes pautas que se apresentam para seu mandato: “Em primeiro lugar, as grandes reformas. A começar pela Previdência, a reforma tributária, com um novo pacto federativo. Se a maioria das políticas públicas competem aos Estados e municípios, temos que descentralizar os recursos arrecadados por impostos”.

Outro desafio, segundo Rigoni, está na qualidade do serviço público: “Precisamos de uma reforma do Estado, mudando o formato da gestão de pessoas atual. A estabilidade do servidor público tem que estar baseada em resultados, na produtividade do servidor. É assim que acontece nas maiores economias do mundo”.

(Série de reportagens do jornalista José Caldas da Costa sobre os impactos do porto da Petrocity e da ferrovia EFMES sobre a economia do Norte e Noroeste do Espírito Santo)