Deputado defende ferrovia no Noroeste: “Frete custa seis vezes menos que o rodoviário”

Especialistas apontam que a economia no transporte, manutenção e aumento da competitividade compensa o fato de a construção de ferrovia custar quatro vezes mais que rodovias.

“O frete ferroviário custa seis vezes menos do que o rodoviário, sem contar a enorme economia de combustível, vidas humanas poupadas de acidentes Brasil afora, além de melhorar a qualidade de vida das famílias, cujos chefes passam dois a três meses longe de casa no comando de caminhões”.

Assim se posicionou o deputado estadual Enivaldo dos Anjos (PSD) ao sair em defesa da construção da plataforma logística composta pelo complexo portuário de São Mateus e da ferrovia Estrada de Ferro Minas-Espírito Santo, para ligar Sete Lagoas (MG) ao terminal da Petrocity no litoral Norte capixaba, passando por Barra de São Francisco e Nova Venécia, na região Noroeste.

A ideia da ação coordenada para a construção de um ramal ferroviário para desafogar as rodovias da região no transporte de granito produzido na região Noroeste foi incluída no programa de governo de Enivaldo dos Anjos, quando tentou voltar à Prefeitura de Barra de São Francisco em 2012.

Enivaldo colocou a construção de ferrovia em programa de governo em 2012: “Agora, ficou ainda melhor”

“Na época, a gente pensava num ramal da Estrada de Ferro Vitória-Minas, mas agora surgiu algo ainda melhor, porque é uma nova ferrovia que vai promover o despertamento da economia de uma região que vai muito além da nossa, com impacto em Minas Gerais e no Sul da Bahia. Vamos lutar, politicamente, para que isso de fato se concretize e que a Unidade de Transbordo e Armazenagem de Cargas de Barra de São Francisco se transforme num porto seco alfandegado”, disse Enivaldo.

INÍCIO DE TUDO

O atual deputado estadual, que também já foi secretário de Interior (1992-94) e conselheiro do Tribunal de Contas do Espírito Santo (2000-2010), lembra que quando ele foi prefeito, de 1989 a 1992, a indústria de exploração de rochas ornamentais estava nascendo e ele pôde dar o primeiro empurrão, criando a Vila Industrial para a instalação de indústrias.

“Já naquela época, quando a extração de rochas ainda não era tão intensa, sentíamos o problema relacionado ao transporte, pois nossas rodovias não estavam preparadas para aquele excesso de carga e, rapidamente, estradas e pontes eram danificadas. .Hoje, são cerca de 600 carretas por dia nas rodovias do Noroeste e só não é mais porque não comportam. Isso tem que ser substituído por trilhos”, afirmou Enivaldo.

Construir uma ferrovia é quatro vezes mais caro do que uma rodovia, atesta uma reportagem publicada pelo site G1 em agosto de 2017, quando abordava a questão da ligação ferroviária com o complexo de Itajaí e Navegantes, em Santa Catarina.

Mas, destaca a reportagem, a vantagem vem depois porque o combustível e a operação do trem são bem mais baratos do que os do caminhão. Dessa forma, o preço da mercadoria cairia e as empresas exportadoras conseguiriam competir melhor com outros países.

O custo de implantação médio de uma ferrovia é de R$ 6 milhões por km, quatro vezes maior do que o de uma rodovia (R$ 1,5 milhão), segundo especialistas. Porém, o grande diferencial depois, além do custo do transporte por trem, é o custo de manutenção: as rodovias custam seis vezes mais do que as ferrovias.

Considerando esses valores, a Estrada de Ferro Minas-Espírito Santo (EFMES), prevista para ligar a região metropolitana de Belo Horizonte ao complexo portuário de São Mateus, com 560 quilômetros, terá um custo final de R$ 3,6 bilhões. O primeiro trecho, com 260km, entre Governador Valadares e o terminal portuário, terá um custo de R$ 1,560 bilhão.

DURABILIDADE

Ana Flávia Azeredo confirma as diversas vantagens das ferrovias sobre o transporte rodoviário

A vantagem do modal ferroviário é confirmada pela engenheira Ana Flávia Azeredo, que é filha e herdeira dos negócios do ex-governador Albuino Azeredo, ao lado dos irmãos Letícia e Albuino Júnior, e fez doutorado na Universidade de Campinas (SP), referência nacional em estudos ferroviários.

“A vida útil de uma ferrovia é de 50 anos. Durante esse período, passa por pequenas manutenções, insignificantes quando comparado com rodovias, que em média têm vida útil de 10 anos. Quando são muito boas, chegam a 20 anos, mas são raros os casos”, disse Ana Flávia, assessora da Comissão de Infraestrutura da Assembleia Legislativa do Espírito Santo.

A especialista concorda com a tese do deputado Enivaldo dos Anjos de que o maior custo de implantação das ferrovias é compensado pela economia da operação: “As locomotivas a diesel gastam, nos longos percursos, menos de 20% do que gastam os caminhões e hoje se têm locomotivas mais modernas, elétricas. São muitas as vantagens das ferrovias sobre as rodovias”.

(Série de reportagens produzidas pelo jornalista José Caldas da Costa sobre os impactos do porto da Petrocity e da ferrovia EFMES sobre a economia do Norte e Noroeste do ES)