Cidade mobilizada cria, em 72 horas, novo centro de acolhida a pacientes de Covid

Uma mobilização que só parou para cumprir o toque de recolher na cidade que está enfrentando o maior desafio no Estado para controlar a pandemia provocada pelo coronavirus garantiu, em 72 horas, a adequação de um prédio abandonado como novo Centro de Atenção a Pacientes com Covid, com 30 leitos para evitar o agravamento de pessoas diagnosticadas com a doença.

“Vamos transferir o atual centro de atendimento para esse novo local. Temos uma média de atendimento de 150 pacientes de Covid por dia.

A ideia da internação vamos iniciar com 30 leitos para aqueles pacientes que estão precisando de reabilitação, e não aquele que precisa de internação hospitalar”, explicou o secretário municipal de Saúde de Barra de São Francisco, Gustavo Lacerda.

E detalhou a estratégia: “É o paciente que precisa ser reidratado e tomar as primeiras medicações para que fique ali no máximo dois dias, com monitoramento médico e da equipe de enfermagem, para que não passe daquele estágio e não vá para o agravamento, chegando no hospital com 70% a 80% do pulmão comprometido como tem acontecido. Hoje o paciente é diagnosticado com Covid, fica em isolamento em casa, piora e não vai para o hospital com medo. Então, acontece essa tendência”.

OCUPAÇÃO

O prefeito Enivaldo dos Anjos (PSD) lidera a cidade para enfrentar o grave quadro da pandemia, que já provocou a morte de 105 pessoas, sendo que 35 delas somente neste mês de março. Entre as 7 horas da manhã de sábado e 7 horas de domingo, morreram oito pessoas que estavam internadas no Hospital Dr

Alceu Melgaço Filho.

Desde a sexta-feira pelo menos 100 pessoas, de diferentes secretarias, inclusive titulares das pastas, trabalham, incansavelmente, para deixar tudo pronto, para que o novo centro de acolhimento funcione a partir desta segunda-feira (29). Barra de São Francisco é o epicentro da disseminação da “cepa inglesa” no Estado, uma variante do vírus, muito mais contagiosa, letal e que procura corpos jovens.

O prédio ocupado tem quase 1.500 metros quadrados e foi construído para sediar o polo de ensino à distância (EaD) de uma instituição de educação superior, mas estava abandonado desde 2018, após apenas quatro anos de uso.

O prédio estava abandonado desde 2018 e foi ocupado pela prefeitura, por meio de um acordo de cessão celebrado com o empresário franqueado da Uniube – Universidade de Uberaba, polo de Barra de São Francisco.

A edificação tem 11 salas que eram usadas como salas de aula, uma sala maior que era a biblioteca e uma dependência reservada para auditório. Toda essa estrutura está sendo recuperada e será adaptada para acolher as pessoas, segundo o secretário municipal de Saúde, Gustavo Lacerda. Em contrapartida, a prefeitura vai pagar o débito de cerca de R$ 13 mil da instituição com a EDP, que dividiu a fatura em parcelas de R$ 500 mensais.
Na manhã deste domingo, enquanto servidores trabalhavam para finalizar as obras do centro de acolhimento, o prefeito disparou por um aplicativo de mensagens um pedido dramático: “Estamos precisando de camas de hospital, para comprar ou alugar, com muita urgência. Ajude-nos aí nessa tarefa e mande mensagem que mandamos buscar. Abraço, Enivaldo”.

SEGURANÇA ALIMENTAR

O prefeito Enivaldo dos Anjos, 71 anos, que tomou a primeira dose da coronavac na última quinta-feira, está liderando a cidade para enfrentar a doença, criando uma rede de proteção contra a Covid19.

Equipes da vigilância sanitária passaram o final de semana visitando o interior para imunizar as pessoas com mais de 70 anos e, além de criar o Centro de Atenção a Pacientes com a Covid, uma outra equipe, liderada pelas secretárias de Assistência, Shirley Teixeira Ribeiro, e de Esportes, Grasiele Marques, preparam um galpão cedido pela Igreja Presbiteriana para instalar, a partir de segunda-feira, um restaurante popular para servir alimentação a pessoas carentes do município.
“Estamos fazendo isso com dinheiro público, mas também com a mobilização da sociedade.

Estamos preparados para servir no mínimo mil refeições logo no primeiro dia. Aqui nesta cidade ninguém vai passar fome. Só se justifica a existência do poder público se o povo não passar fome”, disse Enivaldo dos Anjos, que vai enviar à Câmara projeto de lei denominando o local como Centro de Apoio Alimentar Jesuína Destefani, benemérita de famílias carentes da Igreja Católica da cidade e que morreu recentemente de Covid.

Na noite de sexta-feira, o secretário Gustavo Lacerda, que já foi diretor do Hospital Dr Alceu Melgaço Filho, comandou um mutirão de mudança nas instalações do hospital. Houve uma inversão nas prioridades e todo o primeiro andar, antes ocupado com enfermarias e maternidade, foi destinado para pacientes com Covid, oferecendo 57 leitos de enfermaria e 10 vagas de UTI para fazer frente à grande demanda.

O superintendente regional de Saúde, Edilson Monteiro, deixou São Mateus e chegou a Barra de São Francisco nas primeiras horas de sábado para coordenar os trabalhos de remoção de doentes de Covid do Hospitial Dr Alceu Melgaço para outros hospitais do Estado. Foram conseguidas sete vagas de UTIs e nove de enfermaria. Esses pacientes foram transferidos por quatro ambulâncias do próprio hospital e quatro da prefeitura.

Os pacientes mais graves são removidos pelas UTIs móveis da empresa contratada pelo Estado, sendo que cinco foram para o Hospital Dório Silva, na Serra, um para o Silvio Avidos, em Colatina, e o outro para o Roberto Silvares, em São Mateus.

Sobre o grande número de mortes na cidade, o secretário de Saúde também explicou o que está acontecendo: “Os pacientes entubados em UTI têm, estatisticamente, sobrevida de 50%. Se ficar entubado em enfermaria, essa probabilidade piora. Estamos com muitos óbitos porque temos muitos pacientes graves.

Estávamos no sábado com 23 pacientes entubados, então, a tendência é morrer a metade, infelizmente. Então, esse número alto está dentro da média. Está morrendo porque tem muitos pacientes graves”.

Numa transmissão pelas redes sociais, ao lado da diretora do hospital, Lorena Sipoleski, e do superintendente reginal Edilson Monteiro, o secretário Gustavo Lacerda fez um apelo para que as pessoas não esperem o quadro se agravar para procurar ajuda: “O centro de referência está funcionando de segunda a sábado, não esperem piorar. As pessoas estão chegando no hospital com até 80% do pulmão tomado”.

Edilson Monteiro elogiou a mobilidade da direção do hospital: “Se não fosse isso, muito mais gente teria morrido”. Mas a equipe está chegando à exaustão, disse Lorena Sipoleski. Foi nesse clima de exaustão que um médico mandou uma mensagem ao prefeito Enivaldo dos Anjos, que motivou a decretação do lockdown com toque de recolher.