Capixabas triplicam registros de arma de fogo em 2018 e reacendem debate sobre desarmamento

O número de novos registros de armas de fogo quase triplicou no Espírito Santo em três anos. De acordo com dados da Polícia Federal, até outubro deste ano havia 1.218 registros de novas armas no Estado. Em 2015, por exemplo, era 432, um aumento de 182%.

A questão do armamento da população ganhou força nas últimas eleições, quando o então candidato e agora presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), defendeu a reformulação do Estatuto do Desarmamento, aprovado em 2003. A medida, na prática, tornaria o acesso da população a uma arma de fogo menos burocrático.

O futuro do Estatuto do Desarmamento, que passou por uma série de mudanças, por meio de decretos e portarias, é alvo de preocupação de integrantes do Instituto Sou da Paz.

“O que a gente acompanha, em diversos casos e nos estudos que são cientificamente relevantes e comprovados, é que o cidadão tem muita dificuldade de reagir armado a um crime sem piorar a gravidade desse crime. Na verdade, o que acaba acontecendo, na maioria dos casos, é de um crime de menor gravidade, como roubo, acabar escalando para uma tentativa de latrocínio, acabar gerando um tiroteio. Então essa tentativa do cidadão, de reagir armado, é bem preocupante, não só para ele, mas também tem consequências coletivas para todos que estão ao redor”, destacou a coordenadora de projetos do instituto, Nathalia Pollachi.

O delegado da Polícia Federal, Thiago Mendonça Boiteux, vai ao encontro desse pensamento. Para ele, a redução da violência não se resume a armar a população e diz que o fundamental é trabalhar com rigor a segurança pública, dissolvendo a sensação de insegurança e impunidade.

“As pessoas têm que acreditar também nos órgãos de segurança pública e cobrar das autoridades competentes, para que esses órgãos de segurança pública atuem de forma mais eficaz e que o país seja um lugar mais seguro para a gente criar nossos filhos, para que a gente possa circular livremente pelas ruas sem precisar ter uma arma em punho. E que essas armas fiquem, de preferência, apenas com as autoridades competentes”, destacou.

Já o instrutor de tiros James Paul, nascido no Texas, nos Estados Unidos, e naturalizado brasileiro, diz ser a favor da revogação do estatuto. Ele conta que o primeiro contato com uma arma veio quando ele ainda era criança e que lida com armas de fogo há cerca de 20 anos.

“Eu apoio a liberação das pessoas poderem ter suas armas de fogo de forma lícita, acabar com certas restrições que são bem draconianas, mas ainda manter um certo controle”, frisou.

James conta que, no início do ano, houve um grande aumento nas vendas de armas na loja em que trabalha, mas que, após as eleições, o movimento caiu. “As pessoas estão numa grande expectativa de que a quantidade de calibres que serão permitidos vai aumentar, as restrições para compras vão diminuir e que vai haver uma certa flexibilização para posse de arma de fogo”, pondera.

Requisitos

O também instrutor de tiros, Victor Boechat, explica que, para ter acesso a uma arma de fogo, mesmo que seja só para treinamento, é preciso atender a uma série de requisitos.

“O candidato vai passar por um curso de tiro preparatório, por uma avaliação de tiro por instrutor credenciado pela Polícia Federal. Vai passar por uma análise psicológica também muito severa”, ressaltou.

Já o delegado da Polícia Federal ressalta que há uma grande diferença entre porte e posse de armas e que são necessárias várias etapas para tirar um ou outro registro.

“O porte de arma permite ao cidadão possuir a arma e circular com a arma de fogo pela cidade, em qualquer lugar, dependendo da restrição do porte. Já na posse de arma, o cidadão somente pode ter aquela arma nas dependências da sua residência ou no local de trabalho”, explicou Boiteux.

Informações: Folha Vitória